“… não sou capaz de dizer o quanto ela é perfeita e por que é perfeita; basta dizer que cativou todos os meus sentidos.” Esse trecho da carta do jovem Werther, personagem de Goethe, é a essência da paixão pura — apesar de ele tentar negar. Vamos combinar, é evidente que ele está caidinho por ela, apaixonado. Mas e o início da carta? “Conheci alguém que me tocou levemente o coração…” — “Werther, Werther, a quem você acha que está querendo enganar com esse eufemismo barato?”
Quando estamos apaixonados, fica difícil até ser sincero com a gente mesmo. “Caímos de quatro, ficamos xonados, arrastando o #$ na brita”. É como se a vida ganhasse cores novas, tudo parece mágico. E não dá pra negar que essa fusão emocional entre duas pessoas é uma das experiências mais deliciosas da vida. Pena que dura pouco — ou, pensando bem, ainda bem que dura pouco, porque senão talvez morrêssemos de tanta intensidade.
Podemos até falar da paixão de forma científica: picos de dopamina, descarga de adrenalina, o cérebro num estado de êxtase químico. Mas isso você já tá careca de saber. Essa intensidade da paixão — essa "doidera" — também é perigosa. Muitos confundem essa loucura inicial com amor genuíno. Resultado? Casam, fazem filhos, compram casa, carro, parcelam em trinta anos, tudo em um mês. E, em três (que é quando normalmente a paixão acaba), estão se divorciando, metendo o pau e bloqueando um ao outro nas redes sociais.
A paixão é assim: efêmera e egoísta. Quer tudo agora e exige tudo do outro. Mas o amor? Ah, o amor é outra história. Erich Fromm, psicanalista e filósofo renomado, entendeu isso com maestria em seu livro A Arte de Amar. Ele nos lembra que:
“O amor é uma atividade, não um afeto passivo.” — Amar não é sentar no sofá e esperar ser servido. É estar disposto a agir, a cuidar, a construir uma ponte entre você e o outro.
“É um ato de firmeza, não de fraqueza.” — Não confunda amor com dependência. Amar exige coragem, força para enfrentar desafios e maturidade para aceitar as imperfeições um do outro.
“É propriamente dar, e não receber.” — E aqui está a grande diferença entre paixão e amor. Amar é doar-se sem esperar algo em troca, é alegrar-se ao ver o outro feliz, mesmo que isso signifique abrir mão de algo por você.
A paixão é uma chama intensa, que queima rápido e consome tudo — não sobra nem o pó. O amor é um fogo constante, que aquece e ilumina a vida. Mas — e aqui vem o desafio — quantos de nós estamos prontos para amar de verdade?
Então eu te pergunto: você está preparado para amar como Fromm sugere? Ou ainda está se iludindo com a intensidade da paixão, confundindo faíscas com fogo eterno?
— Alessander Raker Stehling
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