Se analisarmos as diferentes espécies humanas, como os Neandertais e os Homo erectus, perceberemos algo em comum. Todas elas trabalhavam em conjunto em prol da sobrevivência do grupo. A natureza dotou o ser humano de um aparato poderoso focado na coletividade. O amor em suas diferentes manifestações (parental, amizade, romântico, etc.) é um exemplo de recurso natural que nos impulsiona para o coletivismo. Além de a natureza ter nos dotado da capacidade de amar, ela também nos agraciou com outros recursos biológicos, como os neurônios-espelho e a empatia.
No entanto, talvez você se pergunte: por que o ser humano está a cada dia mais egoísta e isolado? Realmente, os recursos naturais para a cooperação a maioria de nós possui; entretanto, fatores externos nos afastam de nossa natureza. Dentre os entraves que nos afastam dessa nossa natureza coletivista, podemos citar dois: o narcisismo, incentivado pelo mercado e pelo capitalismo, e a tecnologia.
Vivemos em uma era em que o capitalismo exacerba a importância do indivíduo de uma maneira quase psicótica. Somos bombardeados com a ideia de que devemos nos destacar, ser únicos, e que nossa felicidade está diretamente ligada ao consumo e à acumulação de bens. Essa ênfase no “eu” cria uma ilusão de que somos autossuficientes ou extremamente importantes, minimizando a necessidade de cooperação e de vida em comunidade. Assim, nos tornamos cada vez mais obcecados com nossas próprias conquistas e com a imagem que projetamos para os outros, ao invés de valorizarmos as relações genuínas e o bem-estar coletivo.
A tecnologia, por sua vez, reforça esse isolamento. As redes sociais, regidas por algoritmos que priorizam mostrar apenas o que já gostamos e com o que concordamos, nos colocam em bolhas digitais. Essas bolhas nos fazem acreditar que nossas opiniões são as únicas válidas e que nosso modo de vida é o único correto. Dessa forma, nossa visão de mundo fica distorcida, limitada, irreal. O contato humano se torna superficial, reduzido a likes e emojis; assim, perdemos a riqueza que é interagir com a diversidade de pensamentos e experiências que existem fora dessas bolhas.
Mas há uma solução. Precisamos sair dessa bolha e nos reconectar com a realidade. Visitar um orfanato, uma creche, uma casa de repouso ou um hospital nos faz lembrar da vulnerabilidade e da diversidade da vida humana. Essas experiências nos mostram a importância do coletivo e da empatia, nos lembram de que não estamos sozinhos e de que nossa felicidade está intrinsecamente ligada ao bem-estar dos outros.
Além disso, estudar a história humana nos ajuda a reconhecer que a coletividade sempre foi essencial para nossa sobrevivência e prosperidade. Desde os tempos mais remotos, os seres humanos se uniram para caçar, proteger-se dos predadores e cuidar uns dos outros. A importância do coletivo é uma lição que a história nos ensina repetidamente. Portanto, é hora de “baixar a bola”, reconhecer a nossa interdependência e nos colocarmos em nosso devido lugar: como parte de um todo maior, onde cada um de nós tem um papel, mas nenhum de nós é o centro do universo.
Lembremo-nos de que não somos apenas indivíduos isolados em busca de glória pessoal; somos peças fundamentais de um vasto mosaico, onde a beleza reside na diversidade e na união. Ao nos reconectarmos com o mundo real, enxergamos além de nossos próprios reflexos e encontramos propósito na conexão, na compaixão e na cooperação. Que possamos, então, nos libertar das amarras do narcisismo e da ilusão tecnológica, para viver de forma plena e significativa, lado a lado, construindo juntos um futuro mais justo e verdadeiramente humano.
— Alessander Raker Stehling
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