“Quanto um homem precisa ganhar para namorar você?”
“Vinte mil reais, pois tenho muitas despesas: cabelo, unhas, roupas, maquiagem, depilação… Sou cara, meu bem.”
Essas conversas, em forma de entrevista com transeuntes, são comuns hoje em dia e nem sequer surpreendem. Esse modelo de relacionamento, baseado em cifras e contratos implícitos, se tornou parte do cenário urbano. Não que o homem seja uma vítima nessa equação; muitos não colocam valor no saldo bancário da mulher, mas fazem questão de outra moeda: exigem beleza, subserviência, discrição e ausência de brilho próprio. A mulher se torna coadjuvante, uma mera sombra necessária para o ego frágil e delicado de quem necessita de uma companhia, em vez de uma parceira de verdade.
O problema não são os relacionamentos em si, mas o que eles representam na cultura de hoje: uma transação em que o preço substitui o afeto e o valor de troca substitui o valor humano. Assim como em uma prateleira de supermercado, o amor virou mercadoria, e os relacionamentos, simples acordos comerciais. Troca-se companhia por conforto financeiro, oferece-se aparência por estabilidade. Se não há como “lucrar” com a relação, então para quê investir?
Mas, afinal, quem é que se interessa por algo tão ultrapassado quanto o afeto genuíno ou a lealdade desinteressada? Conexões profundas são vistas como uma inconveniência, algo que toma tempo, liberdade… e, pior, não gera retorno material. Adoramos publicar frases sobre empatia e falar de amor, mas nossas ações parecem contradizê-las. “Companheirismo, admiração, respeito, autonomia, vulnerabilidade? Não, obrigado(a). O que importa é a capacidade do outro de me proporcionar prazer agora.”
A verdade é que esse modelo mercantil do amor nos torna falsos. Nos condiciona a enxergar o outro como um ativo ou um passivo, alguém que precisa “justificar” seu lugar ao nosso lado. E quem se atreve a pedir amor, quem ousa questionar esse ciclo, é visto como “emocionado”. Afinal, em tempos de tudo descartável, o amor parece quase um ato de rebeldia.
Olhamos para o outro e calculamos, disfarçadamente, o que ele traz e o que ele leva. E assim vamos negociando, dia após dia, sem perceber que, quanto mais colocamos preço nos sentimentos, mais desvalorizamos o que realmente nos conecta.
Mas me diga: se o amor se tornou uma transação, será que ainda sabemos o que ele realmente significa?
— Alessander Raker Stehling
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