Chegamos ao mundo buscando acolhimento e alimento junto à mãe. As necessidades humanas são inúmeras, sobretudo na infância: amor, segurança, acolhimento, alimentação, reconhecimento, prazer, diversão, etc. É fato que nenhuma dessas necessidades é satisfeita plenamente. Entretanto, quando ocorre uma privação severa de alguma(s) delas, a situação fica complicada, gerando um possível trauma.
Talvez acredite que os traumas são causados apenas por impactos emocionais elevados. Entretanto, a privação prolongada de necessidades básicas também pode levar a traumas profundos. Quando uma necessidade fundamental é negligenciada, a pessoa pode desenvolver uma fixação nessa área específica, levando seu organismo a buscar incessantemente aquilo que lhe faltou, concentrando toda a sua energia nisso. Esse é um grande problema, pois todas as outras necessidades do indivíduo ficarão de lado.
Isso cria um ciclo vicioso, onde a busca por suprir a carência se torna o centro da vida da pessoa, muitas vezes em detrimento de outros aspectos igualmente importantes para o bem-estar. Por exemplo, alguém que não recebeu amor e reconhecimento suficientes na infância pode passar a vida buscando aprovação constante dos outros, ignorando seu próprio crescimento pessoal e outras fontes de satisfação.
Bertrand Russell nos alerta sobre os perigos dessa fixação unilateral. A felicidade e o bem-estar humanos são compostos por uma variedade de experiências e satisfações. Quando nos concentramos exclusivamente em uma única necessidade, negligenciamos a complexidade e a riqueza da nossa natureza. O resultado é uma vida desequilibrada, onde a infelicidade reina, pois o foco — inconsciente — do indivíduo está apenas num ponto: o do trauma.
Para superar esse tipo de trauma e evitar a armadilha da fixação, é essencial adotar uma abordagem holística ao nosso bem-estar. Isso envolve reconhecer todas as nossas necessidades e buscar um equilíbrio entre elas. Terapia, práticas de autocuidado e o cultivo de diversos interesses e relacionamentos são fundamentais nesse processo.
A cura do trauma não significa apenas resolver a questão que causou a fixação, mas também expandir nossa capacidade de encontrar satisfação em múltiplas áreas da vida. Isso pode incluir desenvolver novos hobbies, investir em diferentes tipos de relações interpessoais, explorar novas experiências e aprender a valorizar pequenas fontes de prazer e realização.
Ao fazermos isso, começamos a ver que a vida é feita de uma teia de necessidades interligadas e que o verdadeiro bem-estar vem da harmonia entre elas.
Portanto, a cura passa por reconhecer, aceitar e suprir — quando possível — certas carências profundas e, também, enriquecer nossa existência de forma ampla e diversificada. Quando cultivamos múltiplas fontes de satisfação, permitimos que nossa vida se torne mais equilibrada e resiliente.
“A verdadeira felicidade emerge não da obsessão por um único aspecto, mas da capacidade de nutrir todas as facetas da nossa complexa natureza humana.”
Alessander Raker Stehling
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