“Qual é a boa do fim de semana?” Essa era a pergunta que eu me fazia todas as sextas-feiras. Grupos de WhatsApp pipocavam com sugestões: festas, shows, resenhas, barzinhos — qualquer coisa que quebrasse a rotina era bem-vinda. Os eventos eram aguardados com uma ansiedade quase desesperada, como se fossem um soro reidratante, depois de mais uma semana de tédio, compromissos enfadonhos e reclamações. Eu vivia nesse ciclo — um refúgio garantido para espantar a sensação de vazio e manter aquela felicidade instantânea sempre à mão.
E você? Já se pegou fugindo da própria companhia? O que anda fazendo para disfarçar aquele incômodo quando o silêncio finalmente se instala? Não se preocupe, você não está sozinho. Andar em grupo é quase um esporte coletivo: uma forma de manter o desconforto à distância, compartilhando o alívio de estar “ocupado” com qualquer coisa que impeça uma conversa consigo mesmo.
Em grupo, os comportamentos parecem se diluir. Uma piada ruim, solta por alguém, vira um espetáculo de stand-up; uma decisão arriscada se transforma em “aventura”; e os excessos são facilmente desculpáveis — afinal, todos estão fazendo o mesmo. É quase como um contrato implícito de irresponsabilidade mútua: ninguém precisa olhar no espelho se todos estão olhando uns para os outros. O senso crítico vai embora, junto com a responsabilidade pessoal. É a magia do coletivo — um passe livre para a terra do nunca, no estilo Peter Pan.
Para mim, andar em grupo era uma forma de evitar as partes mais desagradáveis de mim mesmo. Evitava encarar de frente as minhas questões mal resolvidas: o relacionamento que estava em frangalhos, a carreira que não saía do lugar, a relação conturbada com a minha mãe… Aquelas noites mágicas, regadas a álcool, luzes piscando, música alta e risadas bobas, eram meu anestésico preferido. Ali, naquela Disney para adultos, eu podia fingir que não precisava amadurecer. Porque, convenhamos, a vida de um adulto responsável não tem o mesmo brilho que a de um irresponsável. Mas crescer é inevitável — e crescer sempre dói.
Alguns dos meus antigos colegas ainda continuam nesse ritmo, perto dos 50 anos, dançando as mesmas músicas, buscando nas noites uma juventude que, ironicamente, nunca chegará. É o direito deles, sem dúvida, mas, para mim, isso deixou de fazer sentido. A terapia me ajudou a fazer as pazes com quem eu sou — com as minhas dores, histórias e partes sombrias. Hoje, consigo ficar sozinho no meu quarto por horas, lendo um livro ou, simplesmente, descansando, sem fazer nada. Encontrei prazer na companhia que antes me assustava — eu mesmo.
Talvez, no final, o que muitos buscam não seja companhia, mas autenticidade. Ao aprender a ficar bem comigo mesmo, descobri que não preciso de grandes eventos ou aprovações para me sentir vivo. Agora, o que me faz sorrir são momentos simples e genuínos — um café quente em uma manhã fria, um livro que me faz perder a noção do tempo, uma conversa profunda com alguém que realmente importa. Porque, no fim, é melhor estar sozinho do que cercado de pessoas que não acrescentam nada à minha existência.
— Alessander Raker Stehling
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