João Guilherme foi ignorado na infância pela sua mãe, e hoje carece de respeito por si mesmo, ele dá o melhor de si a quem quer que for temendo o desprezo.
Vitória era chamada constantemente de magrela e bruxa pela própria mãe na infância, e hoje se sente profundamente incomodada com qualquer crítica que receba. Acha que é indigna de amor, se sente horrível e um lixo.
Arthur sofreu maus-tratos físicos por parte do seu pai durante toda a infância, e hoje carrega uma raiva latente que exige muita energia para ser contida.
Para nos tornarmos adultos autoconfiantes e aptos, é importante termos sido criados por pais amorosos e previsíveis; pais que se alegravam conosco, com nossas descobertas e explorações. Cuidadores que elogiavam nossos esforços e nos incentivavam. Pais que ouviam nossas lamúrias e que acolhiam nossos sentimentos difíceis e dolorosos, ensinando-nos a lidar com eles.
É principalmente durante a infância que construímos nosso “mapa-múndi”. Através das nossas experiências estabelecemos modelos internos de comportamentos e aprendemos o que é bom, ruim, certo ou errado. Entretanto, em muitos casos este “mapa” interno está confuso e bagunçado, ele foi construído tendo por base traumas, abusos e negligências.
Nestes casos acima, as consequências na vida adulta são terríveis: prevendo rejeição, escárnio e privação, as pessoas podem relutar em tentar novas opções, convencidas do próprio fracasso. Imaginando que serão abandonadas e usadas — como de fato foram na infância — muitas podem evitar relacionamentos interpessoais, ou abandonar pessoas maravilhosas, que estão dispostas a realmente ajudá-las. Essa falta de experimentação aprisiona os traumatizados num ambiente crescente de medo, isolamento e carência, em que é impossível acolher bem até aquelas experiências que poderiam alterar suas visões básicas de mundo.
Agora, tente imaginar a dor e a luta interna de inúmeras pessoas que sofreram privações, abusos e falta de amor em sua infância. Não é de admirar que, diversas destas se sintam — já na vida adulta — muitas vezes perdidas, culpadas, indignas e sem lugar no mundo.
Cabe a nós acolhermos uns aos outros e evitarmos os julgamentos, pois como dizia o psiquiatra David Servan-Schreiber: “cada vida é difícil à sua maneira”.
- Alessander Raker Stehling
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