Hoje eu me despeço da minha amiga karina. Ela acabou de tirar a própria vida.
Moça inteligente, educada e bela. Crescemos juntos, estudamos no colégio Arthur Bernardes, bons tempos. Ela sempre me ajudou em matemática; como eu era ruim viu. Eu não conseguia entender as fórmulas, que pra grande maioria eram tão simples. Karina era craque, ensinava a sala toda e tirava as melhores notas. Um orgulho para os pais.
E por falar em pais, os dela eram super trabalhadores, a mãe era dona de um buffet e o pai engenheiro. Sr. Oséias, relembro bem da figura, muito ocupado, mas gente boa demais.
Quando lembro dos fotos dela no Instagram, dos sorrisos e danças no Tik tok... agora entendo, tudo pra tentar superar a dor que ela sentia.
Karina foi abusada na infância por um tio, ela me contou na época aos prantos. Eu sei que isso nunca saiu da mente dela. Recordo de ter falado pra ela se abrir com os pais, mas ela por mais que os amasse, tinha medo deles. Eram bem fechados, não tinham diálogo aberto e o tempo deles era todo dedicado ao emprego e negócios. Talvez um psicólogo? É, ela agendou um pelo que me lembro, mas a karina era tão tímida, acho que ela não conseguiu se abrir, só pode.
Após a formatura se trancou em casa. Ficava só no quarto deitada, tinha depressão, mas nunca deixei ela de lado, a gente conversava direto por telefone; e por falar em telefone, ela me ligou ontem à noite, falou que não tava feliz, agora, pensando bem, acho que ela estava chorando; meu Deus, tava sim, ela tava chorando, porque eu não percebi?!
Karina também me ligou hoje cedo, antes de se matar, eu cheguei a ver, mas não retornei, minha cabeça tava a mil no trabalho. Se bem que eu poderia ter retornado pra ela na hora do almoço, meu Deus, que idiota eu fui, porque eu não fiz isso, por quê?
Acabei de olhar o Instagram dela, que dor, que merda, a gente era tão amigos... poxa, ela postou uma frase antes de se matar. É de José Saramago, seu escritor favorito, deixe-me ler... "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."
Sem palavras, Roberto despenca de joelhos no chão deixando o telefone cair de suas mãos, e desaba em lágrimas desconsoladamente.
— Alessander Raker Stehling
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