Sabe aquela pessoa super carente, muitas vezes sufocante, que requer carinho e atenção o tempo todo? Que nunca fica satisfeita com todo o seu empenho e dedicação em agradá-la, que parece que tem um vazio interno do tamanho do universo? Aquela pessoa que está sempre te procurando e próxima, entretanto, quando você pede para fazer algo sozinho ou espaço, ela fica agressiva, apela e muitas vezes diz: “Você não me ama, né?” “Tá me rejeitando? É isso mesmo?”
Lidar com pessoas assim é um desafio, não é mesmo?! Porém, talvez ela tenha neurose de abandono? Neurose do quê?! Calma, vamos falar sobre isso agora.
A “neurose de abandono”, de acordo com o vocabulário de psicanálise de Laplanche e Pontalis, é “um quadro clínico em que predominam a angústia do abandono e a necessidade de segurança… não correspondendo, necessariamente, a um abandono sofrido na infância.” Em outras palavras, podemos dizer que a pessoa que sofre de neurose de abandono tem um medo exagerado de que as pessoas próximas a rejeitem e abandonem. Ela sente isso provavelmente, pois se sentiu abandonada na infância.
Exemplifiquemos: Geraldo resolveu se separar de sua esposa, Marta, e deixou seu filho pequeno, Arthur, aos cuidados dela. No entanto, ele não avisou à criança dessa decisão e simplesmente saiu de casa. Arthur, confuso, entendeu que ele foi o culpado pelo afastamento do pai e se sentiu abandonado e rejeitado. Agora, na vida adulta, Arthur cerca suas parceiras de todas as formas, é muito ciumento, controlador e monitora cada passo delas, por medo inconsciente de ser abandonado. Elas, obviamente, se sentem sufocadas e não aguentam permanecer nessa relação doentia por muito tempo. Agindo assim, Arthur não consegue evitar o abandono, mas apenas recebe sucessivamente aquilo que ele mais deseja evitar: a rejeição.
Creio que você conheça alguém como o Arthur, e sim, essa neurose de abandono é bastante comum em nossa sociedade, levando ao desenvolvimento de relacionamentos tóxicos ou disfuncionais. Ela ocorre pela ausência — ou deficiência — de cuidados adequados na infância, atenção emocional, calor afetivo e segurança durante os estágios iniciais de amadurecimento, resultando em sentimentos de insegurança, medo e ansiedade em relação ao abandono.
Como esse medo do abandono persiste na vida adulta, o indivíduo pode manifestar comportamentos disfuncionais, tais como: tentativas desesperadas de evitar o abandono, busca constante de aprovação, excessiva dependência dos outros ou até mesmo se afastar emocionalmente antes de ser abandonado. É fácil perceber que alguém que age assim nunca conseguirá ter uma relação íntima, profunda e satisfatória.
Se conhece alguém com os comportamentos descritos acima — talvez você possa ser essa pessoa —, é recomendado sugerir uma psicoterapia. Ao explorar o passado, sobretudo a infância dessa pessoa, é possível encontrar as raízes desse medo inconsciente que agora pode ser enfrentado e reelaborado com comportamentos mais saudáveis, levando finalmente o indivíduo a conquistar relacionamentos interpessoais mais saudáveis.
Um abraço.
— Alessander Raker Stehling
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