Quem já viveu um relacionamento tóxico e abusivo vai entender bem este texto. Muitas vezes, uma das partes acusa a outra de traí-la de maneira incisiva e insistente: “Aposto que você anda de conversa com os caras do seu trabalho.” “Pra que usar essa roupa curta? Quer que os homens fiquem de olho na sua raba, só pode!” As acusações são quase infinitas — quem já passou por isso sabe bem como é, e pode até deixar nos comentários suas experiências; isso vai ajudar.
Curiosamente, quem adota esse tipo de postura é, muitas vezes, justamente quem tem comportamentos de traição ou quem, no mínimo, pensa constantemente em trair. Agora, vale lembrar que pessoas muito inseguras, especialmente aquelas que sofreram com a traição, também podem adotar esses comportamentos extremados. Seja qual for o caso, temos aqui um exemplo clássico de projeção: um jeito eficiente de se livrar de pensamentos insuportáveis jogando-os em cima do outro.
Na linguagem da psicanálise, os pensamentos angustiantes, que geram desconforto acima do normal para a pessoa — através do seu ego ou superego —, são repelidos rapidamente. Esse alívio, porém, é temporário; o conteúdo incômodo não desaparece, mas é atribuído ao outro, o que já diminui a tensão em quem projeta. É comum ouvir: “Isso nunca passou pela minha cabeça, mas é bem o tipo de coisa que você pensaria.” Esse é um exemplo típico de projeção.
Freud observou que, às vezes, seus pacientes diziam coisas como: “Agora me ocorreu uma coisa, mas é óbvio que foi você quem pôs isso na minha cabeça” ou “Eu sei o que você quer que eu responda. É claro que você acredita que pensei nisso.”
A projeção é uma das maneiras mais engenhosas que o inconsciente encontra para desviar a atenção dos próprios conflitos internos, colocando-os nos outros. Afinal, se há algo em mim que me incomoda profundamente — como o desejo de trair, sentir inveja, ou até uma culpa disfarçada —, é bem mais fácil acreditar que esses pensamentos ou comportamentos estão em outra pessoa, não é mesmo?
Esse mecanismo é mais facilmente percebido — como dito anteriormente — em situações de ciúmes extremos e infidelidade. Em muitos relacionamentos tóxicos, o parceiro ciumento, que acusa o outro sem trégua de ser infiel, é geralmente aquele que está envolvido em ações duvidosas, ou ao menos alimentando a ideia da traição. Isso ocorre porque a desconfiança ou a culpa são tão intensas que é impossível encará-las de frente — então, o jeito mais eficiente de se livrar desse peso é projetá-lo no outro.
Claro que nem sempre isso é tão literal, e a projeção pode surgir em inúmeras formas sutis: quem julga os outros por serem “egoístas” pode, inconscientemente, estar lidando com o próprio egoísmo reprimido. Alguém que condena veementemente a preguiça alheia pode estar em conflito com sua própria vontade de relaxar ou com a cobrança interna por produtividade.
Como percebemos, o uso do mecanismo de defesa da projeção é criativo e variado. Então, da próxima vez que alguém começar a acusar você insistentemente de algo… talvez o melhor seja oferecer a essa pessoa um espelho — para ver se ela cai em si e reconhece que aquilo é dela. Mas, pensando bem, isso pode dar um BO danado, né? Todo cuidado é pouco! De qualquer forma, agora você está um pouco mais consciente sobre alguns comportamentos humanos — isso talvez lhe sirva de alguma forma.
Um forte abraço e obrigado pela leitura!
— Alessander Raker Stehling
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