Se fizéssemos uma pesquisa, encontraríamos majoritariamente a seguinte resposta: uma vida sexual normal é quando um homem e uma mulher sentem forte atração um pelo outro e fazem sexo. Insistiríamos na pesquisa perguntando: o que você entende por sexo? Muito provavelmente teríamos a afirmação: sexo é — principalmente — quando o homem introduz o pênis na vagina da mulher. Essa é a opinião popular, que inclusive foi validada por uma pesquisa científica publicada na BBC.
No entanto, Freud em 1905 já havia batido de frente com esse conceito de normalidade sexual. Ao analisar inúmeros pacientes, ele percebeu que tanto o objeto sexual (a pessoa por quem nos atraímos sexualmente), quanto a meta sexual (reprodução através da penetração vaginal) sofria inúmeros desvios, dito em outras palavras, não havia um destino único para a sexualidade humana, cada um de seus pacientes sentia prazer sexual de formas diferentes e particulares.
Alguns talvez falem: “Ok, eu entendo que na época de Freud essas questões sexuais eram um problema, mas não temos mais isso, já que o sexo é livre hoje em dia, todo mundo transa.” É bem verdade que na época de Freud a sexualidade era reprimida, porém, isso não mudou — por mais absurdo que pareça — em nossos dias.
Freud defendia a realização dos desejos — na medida do possível —, sendo o desejo sexual um dos mais importantes e fortes. Quais são as suas fantasias sexuais? Você as realiza com o seu parceiro(a), ou faz sexo seguindo as convenções sociais, para dizer que transa? Se você apenas transa, como a maioria, então, podemos dizer que o seu desejo, muito provavelmente não está presente em seu ato sexual. Freud, ao ver que você não envolve suas fantasias sexuais em seus atos libidinosos, diria que você está, sim, reprimindo a sua sexualidade.
Voltemos a questão da normalidade sexual. Nesta copa do mundo no Qatar constatamos regras rígidas a respeito da liberdade sexual individual. As diversas orientações sexuais, identidades e expressões de gênero foram silenciadas e impedidas de se manifestarem. As normas sociais e religiosas do país — ocorre o mesmo em diversos outros países — dizem que tudo fora da “normalidade” (relação homem e mulher) é uma aberração passível de punições severas.
Freud notou que seus pacientes sofriam muito ao reprimirem seus desejos sexuais ao tentarem se adequar à normalidade da época; ele compadeceu-se destes. Ainda hoje, muitos insistem na cura gay ou na punição divina para quem se assume não-heterossexual ou não-cisgênero. Contudo, estes ignoram recentes pesquisas científica que ligam o comportamento sexual humano a fatores epigenéticos (biológicos) e ambientais (experiencias das pessoas).
Por fim, voltemos à pergunta inicial: O que é uma vida sexual normal? Freud desconstruiria o senso comum, que diz que sexualidade é igual a instinto, união de genitais, reprodução, e diria que o ser humano busca o prazer através da realização de suas fantasias (desejos). Neste sentido, o “normal” está em encontrar alguém adulto que queira realizar tais fantasias consensualmente. No entanto, ele também irá assumir que os impulsos sexuais não necessariamente precisam ser satisfeitos através do ato sexual (seja ele realizado da forma que for), podendo ser direcionados a outros objetos e metas.
Se nos colocássemos mais no lugar dos outros e os ouvíssemos com empatia, notaríamos as enormes variedades de manifestações sexuais e creio eu, viveríamos melhor em sociedade. A palavra final é: respeito.
- Alessander Raker Stehling
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