Navegando por algumas mídias sociais, percebi reclamações recorrentes: “Ninguém quer nada com ninguém”, “As pessoas não sabem valorizar”, “Relações hoje são como produtos descartáveis”.
E sim, você pode até argumentar que essas queixas são antigas — talvez sempre tenhamos buscado algo fora de nós para preencher esse vazio interno. No entanto, o que temos hoje é diferente. As redes sociais criaram uma bolha de superficialidade, onde se confunde valor com visibilidade, amor com validação. Estamos numa constante corrida atrás de ser amados, de parecer desejáveis — mas onde está a capacidade de amar?
O problema é que fomos ensinados a nos vender, a sermos amáveis, mas não a amar. Cada pessoa se vê como um produto em uma grande vitrine, se esforça para aumentar ao máximo sua percepção de valor, buscando ser o mais desejável possível, para assim, atrair o melhor “comprador(a)”. Não é à toa que os “manuais” modernos de relacionamento são pautados em estratégias: como atrair alguém, como fazer o outro te valorizar, como parecer irresistível. O “eu” está sempre no centro. O amor, que deveria ser um ato de entrega, virou um palco onde queremos ser aplaudidos.
E, ironicamente, quanto mais buscamos essa validação externa, mais nos afastamos da verdadeira essência do amor. Amar é sair da bolha, é enxergar o outro como ele é, e não como um reflexo de nós mesmos. Mas, para isso, é preciso primeiro aprender a amar de verdade, o que significa abandonar a obsessão por ser amado. Isso, no entanto, não rende curtidas, não traz fama, não dá likes.
A sociedade da aparência nos viciou na dopamina dos likes, mas não nos preparou para a dureza e a beleza de um amor que exige esforço, sacrifício e, acima de tudo, empatia. E enquanto nos perdemos em selfies e filtros, negligenciamos o que realmente importa: nossa capacidade de nos conectarmos de verdade.
Sim, as relações podem parecer descartáveis hoje — não porque o amor morreu, mas porque esquecemos como amar. Estamos tão focados em nós mesmos, tão cegos pela necessidade de sermos desejados, que deixamos de lado o que nos torna humanos: a capacidade de nos doar de coração aos outros.
E se continuarmos assim, nessa busca incessante pelo amor que achamos que merecemos, sem nunca parar para nos perguntar se somos capazes de amar alguém além de nós mesmos, o que vai sobrar? Apenas uma legião de narcisistas digitais, abraçados em sua solidão, colecionando likes enquanto o mundo real desmorona ao redor.
Mas, pelo menos, a selfie ficou boa, não é?
— Alessander Raker Stehling
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