Há uma frase atribuída a Confúcio — e eu tenho sérias dúvidas sobre a veracidade disso — que diz algo como: “Trabalhe com o que ama e nunca mais precisará trabalhar na vida.” No fundo, essa frase promove uma visão fantasiosa de que, ao fazermos o que gostamos, o trabalho se torna leve, quase sem esforço, como se flutuássemos em um eterno estado de prazer. Mas sejamos francos: isso é uma utopia, um devaneio perigoso. Trabalho é trabalho, e em qualquer profissão haverá momentos de frustração, obstáculos, cansaço.
No entanto, não podemos negar que há um fundo de verdade nisso. Quando conseguimos alinhar nossas atividades profissionais às nossas inclinações naturais, o fardo realmente diminui. Isso não significa que o trabalho se torna uma brincadeira, mas certamente há menos sofrimento. Seguir as nossas aptidões facilita o caminho. As tarefas fluem com mais naturalidade, como se fôssemos programados para realizá-las. Mas quantos de nós têm esse privilégio?
Infelizmente, a realidade para a maioria é outra. Vivemos em um sistema que nos empurra para direções que nem sempre fazem sentido para nossos talentos ou paixões. A pressão do custo de vida, as exigências sociais e a necessidade de sobrevivência nos forçam a trilhar caminhos onde muitas vezes nos perdemos. Ao invés de lapidarmos nossos dons, somos obrigados a abraçar o emprego que oferece o salário mais rápido, o status mais elevado, ou o que simplesmente paga as contas no fim do mês.
Para piorar, muitas pessoas sequer sabem quais são suas verdadeiras inclinações. A falta de autoconhecimento, somada à pressão do sistema, é uma receita para a frustração. A escola nos ensina a decorar fórmulas e datas, mas raramente nos ajuda a descobrir o que realmente nos move, o que faz nosso espírito vibrar. Somos empurrados para carreiras que, muitas vezes, não têm nada a ver com quem realmente somos, apenas porque parecem promissoras financeiramente ou socialmente aceitas.
E aqui está o ponto principal: tentar forçar uma pessoa a seguir uma trajetória que contraria sua natureza é cruel e insano. É como pegar um pássaro e tentar fazê-lo nadar. Ele pode até sobreviver por um tempo, mas nunca será pleno, viverá sempre limitado. Para florescer de verdade, precisamos estar no terreno certo, onde nossos dons possam se manifestar plenamente. Só assim o trabalho — com todas as suas dificuldades — ganha um sentido mais profundo, um propósito que vai além do simples "ganhar a vida."
Claro, isso exige coragem. Coragem para questionar o sistema, para se conhecer de verdade e, mais difícil ainda, para aceitar quem você é. Porque nem sempre o que amamos fazer é valorizado (como um professor, artista ou filósofo por exemplo). Mas não há caminho mais recompensador do que aquele que nos leva de volta à nossa essência, ao que fazemos de melhor. O desafio é grande, os obstáculos são muitos, mas a alternativa — viver uma vida distante de quem realmente somos — é infinitamente pior.
— Alessander Raker Stehling
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