Qual foi a sua última grande realização? Quando digo grande, refiro-me a algo que demandou dedicação, longos períodos de esforço e talvez até aborrecimentos para alcançar o resultado final. Talvez tenha sido uma formação acadêmica que consumiu anos de sua vida; ou, quem sabe, o longo e cuidadoso processo de conhecer bem a pessoa que hoje é sua esposa; ou ainda juntar dinheiro, economizando pouco a pouco, para enfim comprar o carro dos seus sonhos. Cada um desses feitos não aconteceu num piscar de olhos. Foi preciso paciência, disciplina e, acima de tudo, saber lidar com momentos de tédio, frustração e até sacrifício.
Se você é uma pessoa madura, sabe bem que, para conquistar algo significativo, será necessário suportar voluntariamente uma boa dose de desprazer e privações. Grandes metas demandam um longo período de investimento emocional, financeiro e, em suma, de vida, onde o “frio na barriga” e o “arrepio na pele” podem não aparecer todos os dias. E é justamente nesse ponto que as novas gerações acabam se afobando — e nem podemos dizer que é culpa exclusiva delas.
Vivemos em uma sociedade abundante em distrações e instantaneidades. O celular está sempre à mão, trazendo redes sociais que nos oferecem uma sensação rápida de conexão e dopamina. O que dizer dos serviços de streaming que garantem que sempre haja algo para assistir, algo para ocupar a mente? E com isso, o tédio — esse desconforto antigo, esse vazio que, em outras épocas, era um espaço de construção, de introspecção e até de autoconhecimento — passa a ser algo a evitar a qualquer custo.
Mas há um custo oculto nisso tudo. A busca incessante por prazeres imediatos, pequenos e momentâneos nos priva dos grandes êxitos que só chegam para aqueles que suportam o tempo. Quem está sempre em busca de gratificação instantânea talvez nunca experimente o sabor da verdadeira realização, pois essa demanda sacrifícios e uma capacidade de persistir mesmo quando a motivação se vai, e o único combustível que resta é a força de vontade.
Há algo especial em suportar o tédio, em enfrentar o vazio. Esse vazio pode ser uma porta para a reflexão e a criatividade; é ali que nascem as ideias que não surgem no meio do burburinho. É no silêncio que nos conhecemos, que fazemos planos de verdade, que decidimos o que realmente importa. Bertrand Russell estava certo — sem a capacidade de suportar o tédio, nos tornamos uma geração de homens pequenos, homens que nunca aprendem a realmente construir, porque a verdadeira construção demanda tempo, foco e o enfrentamento de momentos em que a recompensa parece distante.
Então, pergunte-se: você está disposto a abraçar o desconforto e os momentos de vazio em prol de algo maior? Ou continuará na superfície, sempre à procura da próxima distração, sem nunca mergulhar no que realmente vale a pena?
— Alessander Raker Stehling
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