O Corpo Guarda as Marcas: Como Traumas da Infância se Tornam Doenças na Vida Adulta?
- Alessander Raker Stehling
- 24 de mar.
- 3 min de leitura
Você já percebeu como o corpo “fala” quando a mente tenta silenciar algo?
Muitas pessoas que sofreram traumas na infância podem não se lembrar conscientemente do que lhes ocorreu, mas, estranhamente, apresentam diversas doenças ou sintomas físicos e emocionais. É comum, por exemplo, que desenvolvam enxaquecas crônicas, distúrbios gastrointestinais, doenças autoimunes e transtornos como ansiedade e depressão.
Freud já estudava esse fenômeno no final do século XIX, ao analisar mulheres diagnosticadas com histeria. Elas apresentavam sintomas físicos sem explicação médica aparente, como paralisias, cegueiras temporárias e dores sem causa orgânica detectável. Ele percebeu que esses sintomas eram manifestações de traumas reprimidos, tentando emergir de alguma forma. O que Freud intuía no século XIX, hoje a neurociência comprova com precisão: o corpo registra traumas que a mente tenta esquecer.
Para ilustrar esse processo, vejamos o caso fictício de Ana, 28 anos, que foi abusada na infância por um tio. Atualmente, Ana sofre de uma doença autoimune e precisa tomar medicação constantemente. Existe uma relação entre seu trauma e sua doença? Sim, completamente, e vamos entender por quê.
Ana sabe, por meio de relatos da mãe, que o abuso gerou uma grande ruptura na família, mas ela mesma não se lembra de nada. No entanto, o trauma está registrado em seu corpo, não de forma consciente, mas de maneira biológica e emocional.
Quando alguém passa por um trauma intenso, o cérebro ativa o sistema de luta ou fuga, coordenado pela amígdala, a estrutura cerebral responsável por identificar ameaças. Em situações extremas, quando lutar ou fugir não são opções, o organismo pode entrar em estado de paralisia e desligamento. Esse mecanismo é uma defesa para minimizar o sofrimento e garantir a sobrevivência. Durante esse estado, o cérebro não armazena o evento como uma memória coerente e organizada, mas sim em fragmentos sensoriais e emocionais dispersos.
O problema surge quando esses registros inconscientes são ativados por gatilhos no presente. Ana, por exemplo, pode não se lembrar do abuso, mas seu corpo reage quando ouve um homem falando alto, pois essa característica se assemelha ao comportamento do abusador. Sua amígdala detecta isso como uma ameaça e automaticamente aciona o sistema de luta ou fuga. No escritório, quando um colega levanta a voz, algo dentro dela se contrai. O coração acelera, as mãos suam, mas ela não entende o porquê. Ela vive em estado de alerta contínuo, sentindo-se ameaçada sem compreender a raiz do problema. Essa ativação frequente do sistema de defesa contribui para o surgimento de sintomas físicos e doenças crônicas.
Quando estamos sob ameaça, nosso corpo libera cortisol e adrenalina, hormônios que preparam o organismo para agir rapidamente. Porém, se essa ativação ocorre de forma repetitiva e prolongada, há um desgaste excessivo do sistema nervoso, resultando em inflamações, desregulação do sistema imunológico e prejuízo ao funcionamento de diversos órgãos.
Para evitar um colapso total, o organismo busca uma forma de equilibrar essa sobrecarga, e uma das estratégias é a criação de sintomas físicos. Esse processo pode resultar no desenvolvimento de uma doença autoimune, por exemplo, onde o próprio sistema imunológico ataca o corpo, na tentativa de encontrar uma saída para o estresse crônico.
Portanto, quando Freud afirma que o sintoma é uma tentativa do paciente de curar a si mesmo, ele não está errado. O sintoma funciona como um mecanismo de sobrevivência, uma forma de aliviar a tensão insustentável que o trauma geraria se fosse mantido sem nenhuma válvula de escape. Sem esse recurso, o organismo entraria em colapso, comprometendo ainda mais a saúde física e mental do indivíduo.
Os sintomas não são o inimigo. Eles são mensageiros do passado, pedindo para serem ouvidos. A verdadeira cura não está em silenciá-los, mas em decifrá-los.
— Alessander Raker Stehling
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