“Um salário de R$ 50.000,00 é digno? É o suficiente para uma pessoa se manter?”
Li essa pergunta — que mais parecia uma pegadinha — em uma rede social. As respostas eram diversas:
“Se você ganha isso, faz parte dos 0,7% da população brasileira.”
“Eu e meu marido ganhamos R$ 15.000 por mês e achamos pouco para o nosso estilo de vida.”
“Você tá de sacanagem, quer biscoito (chamar a atenção), só pode.”
Essa é uma reflexão interessante. Ganhar R$ 50.000 por mês sem dúvida é o desejo de qualquer um (menos de quem ganha bem mais do que isso), mas, como constatou Epicuro, que levava uma vida modesta — cultivando ele mesmo suas hortaliças —, essa pode ser uma grande armadilha.
“Armadilha? Se ganho 50 mil, vou comprar um carrão, viajar o mundo, ter tudo o que sempre sonhei.” Talvez muitos digam. E é verdade que o padrão de vida de muitos de nós se elevaria consideravelmente se recebêssemos uma bolada dessas. E é aí que mora o laço.
A grande questão é: e se esses recursos faltassem amanhã? Você viveria bem com muito menos?
Não precisamos pensar em cifras tão altas. Pense na sua realidade hoje: você está contente com o que tem? Não digo satisfeito, pois uma certa ambição é saudável. Mas se o dinheiro for sua única fonte de prazer e alegria, então você não tem um patrimônio — tem uma prisão.
Epicuro compreendia algo essencial: os melhores prazeres da vida são simples e acessíveis. Um bom papo com um amigo, uma bebida quente numa tarde fria, o cheiro de terra molhada depois da chuva, o silêncio da madrugada, o sabor de uma fruta doce. Esses prazeres estão sempre ao alcance de quem aprende a apreciá-los, independentemente do saldo bancário.
Quem aprende a sentir prazer no simples se blinda contra as incertezas da vida. Se o dinheiro vem, ótimo! Mas se ele faltar, a vida continuará tendo sabor. Quem baseia a felicidade apenas na abundância material está sempre a um passo do desespero.
Por isso, é inteligente cultivar uma vida que não dependa de luxos. Aprender a ver beleza na rotina, nas coisas que ninguém pode tirar de você. Assim, se um dia a fortuna for embora, você ainda terá algo valioso: a capacidade de encontrar felicidade no essencial.
No fim, como bem disse Schopenhauer: “A nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos.”
Me diga aí: e se amanhã o dinheiro faltasse, você ainda saberia aproveitar a vida?
— Alessander Raker Stehling
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