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Foto do escritorAlessander Raker Stehling

Ser ou Ter? Como a Sociedade das Aparências Redefine o Valor Pessoal

“Qual é o seu preço?”


“Que absurdo, Alessander! Eu não estou à venda, eu me valorizo! Não tenho preço, tenho valor!”


Sim, já ouvi isso, e creio que você também. A indignação é instantânea, a resposta na ponta da língua. Mas será que é isso mesmo? Na prática, o que realmente define o valor de uma pessoa hoje?


Talvez você pense que é o caráter. “Sou uma pessoa de bom coração, gentil, honesta, generosa…” Ótimo. Mas quando olhamos ao redor, o que atrai mais respeito e consideração? Suas virtudes ou seu saldo bancário? Um bom coração ou a conta cheia? Vivemos numa sociedade que te diz, com um sorriso cínico, que o que importa mesmo é o que a pessoa tem no coração, mas, no fundo, isso é uma falácia; o que importa mesmo é o sucesso financeiro, o status social e a beleza exterior.


A verdade é que o valor, esse conceito tão bonito e profundo, virou mercadoria. E o mais irônico é que todos acabamos participando (mesmo que involuntariamente) desse “mercado”: nos exibindo, nos vendendo, tentando desesperadamente ser “valorizados” e reconhecidos. Mas aí que tá: o mercado não se interessa pela sua generosidade, seu caráter ou empenho em ser alguém melhor para si e os outros. Ele quer saber do seu carro, da sua casa, do seu currículo. E assim, pouco a pouco, vamos trocando nossas virtudes pelo brilho vazio dos bens materiais.



Acontece que a nossa cultura está completamente fundida à economia. Não tem mais como separar. Quando falamos de valor, já não pensamos mais em coragem, bondade ou compaixão. Pensamos em coisas. Bens. Dinheiro. Produtos. Pensamos em quantos seguidores você tem no Instagram, qual marca de roupa você usa, ou qual celular está no seu bolso. Os valores que deveriam nos definir como seres humanos foram jogados para escanteio. Afinal, de que adianta ser “bom” se você não pode exibir isso nas redes sociais, não é? Ah, lembrei de uma coisa: a bondade até é exibida nas redes sociais, mas só fazem isso se estiverem sendo gravados — o antigo ditado “o que uma mão faz a outra não precisa saber” hoje tá fora de moda, não é mesmo?!


É claro, todo mundo adora dizer que o que vale mesmo é o que a pessoa é por dentro. Mas vamos ser francos: quantas vezes você já viu alguém ser realmente admirado porque é bondoso, educado e gentil? É mais fácil uma pessoa assim ser vítima de bullying e chacota. Agora compare isso ao tanto de atenção que damos aos “Neymares da vida”, a quem tem poder, dinheiro e fama. A nossa admiração segue o dinheiro como urubus seguem a carniça.


No fundo, vivemos numa grande vitrine. Olhamos uns para os outros da mesma forma que olhamos para produtos em promoção. “Quem é mais bem-sucedido? Quem oferece mais? Onde terei mais vantagens? Quem vai me levar aos melhores lugares? Quem terei orgulho de exibir nas redes sociais? Quem tem a vida mais perfeita?” E nessa busca implacável por status, bens e dinheiro, esquecemos o que realmente significa ser humano. Porque ser humano não se compra, não se vende, não se exibe. Ser humano é ser mais do que números, títulos ou rótulos. É ser íntegro, vulnerável, cheio de falhas e acertos. É ser.


Mas parece que, neste mercado de aparências, a humanidade ficou fora de estoque.


— Alessander Raker Stehling

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“A felicidade do homem moderno consiste na sensação de olhar as vitrines das lojas e em comprar tudo quanto esteja em condições de comprar, quer à vista, quer a prazo. Ele (ou ela) encara as pessoas de maneira semelhante.” - Erich Fromm

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