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“No Final, Estamos Sós”: A Solidão Como Destino Inevitável Segundo Schopenhauer

  • Foto do escritor: Alessander Raker Stehling
    Alessander Raker Stehling
  • 25 de fev.
  • 3 min de leitura

Luiz Roberto nasceu em 4 de setembro de 1961, um ano marcado por grandes acontecimentos históricos. Na Alemanha, os primeiros blocos do Muro de Berlim eram erguidos, dividindo não apenas uma cidade, mas uma era. No Vietnã, os primeiros tiros de uma guerra que arrastaria milhões para o sofrimento ecoavam entre as selvas densas. E, no espaço, o cosmonauta Yuri Gagarin tornava-se o primeiro homem a orbitar a Terra, provando que o céu não era o limite. Mas Luiz Roberto só soube dessas coisas bem depois, quando já tinha idade suficiente para perceber que a história do mundo sempre lhe fora distante — assim como sua própria vida.


Filho de José e Benedita, Luiz cresceu em um lar apertado e carente, com mais sete irmãos disputando o pouco que havia. José, um homem rígido e de mãos calejadas, trabalhava como pedreiro na construção civil, enquanto Benedita, mulher de olhar cansado, lavava roupas para os vizinhos. Sonhavam com uma vida melhor para os filhos — e também por Luiz. Não perguntaram o que ele queria ser; já sabiam. Médico, advogado, engenheiro — qualquer coisa que garantisse respeito e um bom salário. E Luiz acreditou.


Na juventude, seguiu o caminho traçado por outros. Estudou com afinco, fez vestibular para Engenharia, mesmo sem jamais ter se perguntado se gostava daquilo. Nos primeiros semestres, sentia-se confuso, tomado por uma inquietação interna que persistia nas madrugadas insones: “E se eu fizesse outra coisa?” Mas o tempo passou entre cálculos, provas, noites maldormidas e um diploma que nada lhe dizia. Casou-se aos 28 com Marta, uma moça de família respeitável, como deveria ser. Construíram uma casa, tiveram dois filhos, seguiram o roteiro.


O Brasil mudava ao seu redor — Diretas Já, planos econômicos fracassados, a chegada do real — mas Luiz não percebia. Estava ocupado demais tentando ser o homem que lhe ensinaram que deveria ser. Trabalhou até o corpo doer, acumulou bens, conquistou o respeito dos colegas e seguiu os valores e preceitos religiosos da época: estabilidade, família, fé em Deus e sucesso. Amava os filhos do jeito que aprendera — distante e frio. No fundo, nunca os conheceu de verdade.



Os anos passaram. Os pais se foram. Um de cada vez. Sem muito alarde. Como folhas secas no outono. O casamento, há anos sustentado pelo hábito, cedeu. Marta foi embora. Os filhos cresceram, casaram-se e mudaram-se para outras cidades. Luiz ficou. A casa espaçosa tornou-se grande demais para ele. Os móveis continuavam no mesmo lugar, mas agora pareciam deslocados, estranhos. Havia um silêncio que nunca existira antes. Ou talvez sempre estivesse lá, mas ele nunca tivesse parado para escutá-lo.


Aposentou-se. Os dias tornaram-se longos, preenchidos pelo ruído da televisão e o som ocasional das festas na vizinhança. O telefone raramente tocava. Os encontros com os filhos tornaram-se formais, esporádicos, quase protocolares. Os amigos de outrora, aqueles com quem dividira almoços e finais de semana em família, haviam seguido suas próprias vidas ou já não existiam mais.


Em uma noite qualquer, abriu a geladeira. Pegou um prato, uma refeição pronta. Sentou-se à mesa. Mastigou sem pressa, sentindo o gosto de nada. O silêncio era tão absoluto que ele quase podia ouvir o próprio coração batendo. Olhou ao redor. A casa parecia ainda maior. Um nó formou-se na garganta. Mas não era tristeza. Não era arrependimento. Era apenas a constatação de um fato: ele sempre estivera só. Só não sabia.


E, enquanto Luiz olhava para o nada, em algum outro canto do mundo, Théo começava sua jornada.


— Alessander Raker Stehling

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“O que alguém pode ser para outrem possui um limite bem estreito: no final, cada um é e permanece só.” Frase Schopenhauer
“O que alguém pode ser para outrem possui um limite bem estreito: no final, cada um é e permanece só.” Frase Schopenhauer

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