Freud não foi o primeiro a falar sobre o narcisismo, porém, ele foi um dos que mais estudaram e compreenderam o seu funcionamento.
Segundo Freud, o ser humano pode se orientar de duas formas, a sua libido (energia sexual) pode ser direcionada para si mesmo ou para o mundo exterior — pessoas, cultura, natureza… O narcisismo, para ele, é um estágio intermediário entre o autoerotismo e o “amor objetal”, sendo um complemento do instinto de autopreservação.
Ele comprovou o narcisismo através do estudo dos esquizofrênicos, que normalmente possuem megalomania (ilusão de grandeza) e desinteresse no mundo externo, sendo, esses dois elementos, fundamentais para a compreensão do narcisismo.
Segundo Freud, a criança nasce num estado completamente narcisista e lentamente aprende a se interessar por pessoas e coisas. Desta forma, todos temos o narcisismo em algum nível, pois as bases comportamentais infantis são mantidas — e aprimoradas — na vida adulta.
Biologicamente falando, uma certa dose de narcisismo é necessário, pois, como poderá o sujeito sobreviver se não colocar seus interesses antes dos outros?! Por outro lado, a sociedade e a religião defendem a redução máxima do narcisismo.
Já para a pessoa narcisista, o único ser interessante é ele mesmo. Seus sentimentos, pensamentos, desejos, corpo, ambições, tudo o que ele é, ou que lhe pertence. Tudo o que provém dele é agradável e belo, inclusive seus defeitos, que para o narcisista não existem. O que se relaciona com os outros é desinteressante, feio, sem cor ou inexistem. E devido a isso, todos os relacionamentos com narcisistas são tóxicos e inviáveis, pois eles estão fixados em fases iniciais — infantis — de desenvolvimento, desta forma, estes são totalmente incapazes de abrir mão dos próprios interesses para cuidar dos interesses dos parceiros(as). Agem como crianças em corpos de adultos.
No entanto, o narcisismo dá alguma vantagem aos artistas, músicos, diretores, escritores e poetas. Nestes exemplos o narcisismo os ajuda, assim eles conseguem expressar o que sentem subjetivamente, o que contribui em suas atividades profissionais. Contudo, em casos extremos ele continua sendo negativo.
Um dos graves problemas do narcisista consiste em sua falsa imagem de grandeza. Ao superestimarem o valor da própria imagem, beleza, pensamentos e desejos, eles acabam perdendo a noção da realidade. Em todo narcisismo exagerado existe um nível de psicose (alteração na percepção da realidade). Inclusive é essa a diferença entre o egoísmo e o narcisismo. O egoísta mantêm a percepção da realidade, mas o narcisista tem dificuldade em entender o que é, ou não é real.
E o que leva uma pessoa a desenvolver o narcisismo patológico? Por muitos anos o narcisismo foi defendido como sendo ocasionado por fatores genéticos, porém, novas correntes científicas sugerem que a pessoa se torna narcisista, principalmente por fatores ambientais.
É papel dos pais permitir que a criança se frustre, porém, muitos mimam os filhos excessivamente, o que os leva a pensarem que são especiais; este mais tarde poderá ser o narcisista megalomaníaco (grandioso). Porém, temos também aquela criança que teve de se refugiar em seu mundinho interior devido aos abusos dos pais ou abandono. O que ela sentia internamente foi tão doloroso e cruel, que a forma que sua mente encontrou para se defender foi a construção de uma nova imagem de si — reprimindo a antiga figura fraca, machucada e sofrida —, porém, esta imagem não é tão forte como no caso do narcisista grandioso. Crianças que desenvolvem este tipo de narcisismo, que chamamos de vulnerável, tem geralmente baixa autoestima e alta sensibilidade às críticas. Entretanto, nos dois casos a imagem distorcida (grandiosa) de si e o desinteresse pelos outros se mantêm. Podemos também esperar dos narcisistas alguns comportamentos infantis, como o ciúme exagerado, possessividade, ausência de empatia, agressividade, e vários outros.
E tem cura? Não existem remédios que curam o narcisismo, mesmo porque, como percebemos, o narcisismo não é uma doença, mas algo comum ao ser humano, que foi potencializado, como nos exemplos citados acima. As psicoterapias também não costumam fazer efeito, por motivos óbvios: os narcisistas se acham perfeitos, sendo normal mentirem para os psicoterapeutas, ou simplesmente não irem às sessões de terapia.
Assim como narciso — em seu mito — se afogou em sua imagem refletida na superfície do lago, este parece ser o “mesmo destino” para os narcisistas. Esta “autofascinação” exagerada cobra um alto preço: a solidão, depressão ou o suicídio. Caso tenha gostado desse artigo, experimente esses outros sobre o mesmo tema
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— Alessander Raker Stehling
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