A Vida Não Espera: Dicas para Valorizar os Pequenos Momentos do Dia a Dia
- Alessander Raker Stehling
- 26 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Voltando de lotação do centro da cidade, com o ônibus cheio, lá estava eu, em pé, espremido entre os passageiros. Duas senhoras conversavam alto ao meu lado, sem se preocupar se alguém estava ouvindo ou não. Era como se o mundo ao redor delas não importasse — apenas a prosa fluía.
“Já já é Natal, hein, cumade?”, uma dizia, ajeitando a sacola no colo.
“E num é que é mermo, cumade? O tempo avuô, né?”, respondeu a outra, rindo e batendo de leve na amiga.
“Nu! Nem vi. Isturdia era janêro, vuô mermo.”
Desci no meu ponto e continuei com aquelas palavras na cabeça. “O tempo voa.” E voa mesmo. Nessa correria em que a gente vive, esperando o “momento certo”, o que acontece de verdade é que a vida vai passando despercebida. Deixamos de notar que o “momento certo” nunca chega, porque estamos sempre ocupados demais esperando por ele.
Se você parar um pouco pra pensar, muitos vivem numa expectativa eterna. Esperam o fim de semana pra descansar, o feriado prolongado pra viajar, o Natal pra reunir a família, a virada do ano pra, finalmente, começar a academia ou mudar de vida. E assim, vão passando pelas estações do ano, como quem assiste a um filme no cinema — que não se pode pausar. Mas sabe o que é pior? A maioria nem lembra de um momento marcante desse ano. Talvez digam que ainda vai acontecer, na próxima festa da firma ou numa viagem programada. Como se os momentos importantes fossem sempre lá na frente, nunca aqui e agora.
Mas a verdade é que os momentos estão aí, todo santo dia. Eles não têm holofotes, nem fazem barulho. São sutis. Estão na primeira vez que seu filho recém-nascido sorriu, no jeito como ele começou a engatinhar sem que você percebesse que, em um piscar de olhos, ele já estava correndo pela casa. A gente perde esses instantes preciosos porque está sempre “ocupado”. Trabalhando, estudando, ou pior: vivendo no mundo virtual, rolando a tela do celular enquanto a vida real, aquela que importa, escorre entre nossos dedos.
Lembra daquele café com um amigo que você vive adiando? Ou da visita aos pais, que sempre fica pra semana que vem? Pois é... O tempo não espera. Ele avança, implacável, sem dó. E, enquanto a gente faz planos pro futuro, o presente vai se perdendo, sumindo feito fumaça.
Eu penso nas palavras das duas senhoras no ônibus. Quantas viradas de ano elas já viveram, cada uma cheia de promessas e resoluções? Quantas vezes falaram que o tempo voa, mas continuaram sem perceber que o que realmente estava escapando não era o tempo, era a vida. E a gente faz o mesmo, né? A gente corre atrás de metas e prazos, mergulha no trabalho, nas preocupações… E só percebe o que deixou pra trás quando já não tem mais volta.
É triste, porque a gente só se dá conta disso tarde demais. Tarde demais pra voltar no tempo e aproveitar as fases do filho, os momentos simples com os amigos, as risadas inesperadas com quem amamos. A gente só entende o valor das pequenas coisas quando elas já passaram. E, talvez, seja por isso que os melhores dias da vida sempre parecem ser aqueles que fogem primeiro.
Mas o que a gente ainda pode fazer — e deve — é parar de esperar o momento perfeito. Ele nunca chega. Porque o momento perfeito é agora. Hoje. No olhar atento pro presente. Na conversa fiada com um desconhecido. No abraço que não se apressa. No sol que brilha forte lá fora enquanto você tá aí dentro, na frente de uma tela.
A vida acontece enquanto estamos ocupados demais com outras coisas. Então, talvez, seja hora de desacelerar. De aproveitar cada momento como se fosse o único, porque, na verdade, ele é. E quando a gente olha pra trás, lá na frente, é disso que vai lembrar: das pequenas coisas que, no fim, eram as maiores de todas.
Então, da próxima vez que você ouvir alguém dizer que o tempo voa, lembre-se: ele voa mesmo. Mas cabe a você decidir se vai só assistir ele passar ou se vai correr junto e aproveitar o voo.
— Alessander Raker Stehling
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