Jacques Lacan certa vez disse: “Somos seres desejantes, destinados à incompletude, e é isso que nos faz caminhar.” Não podemos negar que desejamos muitas coisas: casas, carros, dinheiro, um salário melhor, família, filhos, bens materiais, entretenimentos e muitos prazeres. Esses desejos nos movem em direção às suas satisfações, porém, surge uma pergunta: por que desejamos tantas coisas e estamos sempre insatisfeitos? Freud explica?
Segundo a teoria psicanalítica de Sigmund Freud, o desejo é mais do que uma simples vontade consciente; é um impulso inconsciente que busca recuperar a primeira experiência de satisfação. Vamos refletir um pouco sobre isso agora.
A experiência angustiante do nascimento desperta necessidades inatas a todos nós: alimentação, proteção, carinho, atenção, amor... e ali, com a nossa mãe, ou cuidador(a), começamos a experimentar a primeira experiência de satisfação e, com ela, um intenso prazer que acompanha a saciedade de uma necessidade. Isso cria uma marca mnêmica em nosso corpo e mente, uma espécie de registro do prazer. Quando a necessidade ressurge, nosso impulso é reviver essa experiência de satisfação, ativando a tal marca mnêmica. Assim, o que Freud chama de desejo é, na verdade, a busca incessante por reproduzir um momento de prazer passado.
Talvez você esteja pensando: isso é absurdo, pois é impossível obter o mesmo prazer outrora obtido. Tenho de concordar contigo, porém, voltando ao início desse texto, notamos que é essa insatisfação, em outras palavras, essa busca constante por uma satisfação inalcançável, que nos move. O desejo nos direciona a uma incessante busca pelo prazer e afastamento da dor. E ele nos inspira a criar e transformar o mundo ao nosso redor, levando-nos a inúmeras realizações.
Arthur Schopenhauer, sem papas na língua, de forma direta e menos poética e otimista que Lacan, disse: “A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir.” Schopenhauer já havia constatado que o ser humano está constantemente insatisfeito, ora quer algo, daí obtém e já não quer mais, daí deseja outra coisa e já se cansa daquilo quando a conquista... e assim vive toda sua vida, nesta busca única, da primeira experiência de satisfação. Entretanto, como já falamos, isso é impossível, pois essa experiência primitiva de satisfação é irrepetível; o contexto é outro, o mundo mudou, o tempo passou e outra coisa, não sabemos nem nomear o que sentimos ao, por exemplo, recebermos o abraço e acolhimento da nossa mãe pela primeira vez, é essa a sensação que buscamos, mas como descrever isso? Porém, para nossa mente e corpo não interessa, eles nos movem em busca dessa experiência. Uma espécie de delírio ou loucura? Tipo isso.
Como nunca mais obteremos as mesmas experiências de satisfação outrora obtidas, seremos eternos insatisfeitos, isso é fato e, esse é o combustível humano, que nos leva em direção ao novo, ao desconhecido, motivando-nos a criar e transformar nosso ambiente e vida.
Em última análise, a dualidade entre a busca pelo prazer inicial e a inevitabilidade da insatisfação tece a trama complexa da existência humana. Cada indivíduo, ao confrontar essa realidade, encontra seu próprio significado na jornada da vida, seja através da criação artística, do conhecimento acadêmico, das relações interpessoais ou de outras formas de expressão. O desejo, em sua essência, não apenas nos move, mas também nos desafia a explorar o inexplorado, ou, nas palavras do filósofo Arthur Schopenhauer: “Entre os desejos e as realizações destes transcorre toda a vida humana.”
— Alessander Raker Stehling
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