Ao passarem caminhando por uma senhora obesa, Kaique, de 5 anos, disse para sua mãe Carla: “Nossa mamãe, como ela é gorda, parece um botijão, você é muito mais magra e bonita que ela.” Carla no mesmo instante pensou em reprimi-lo, mas não o fez, pois, no fundo do peito sentiu um calorzinho de felicidade, ao comparar o próprio corpo com o da “pobre Senhora”.
Julgamentos, opiniões, achismos, quem nunca proferiu um? É fácil dizer: “Nossa, o que será que ele fez para tá morando na rua?” “Se eu tivesse no seu lugar, faria isso e isso.” “Eu acho, que você deveria....” “Babado amiga, você não sabe da maior....” No passado tínhamos a vizinha fofoqueira, hoje temos as mídias sociais. Posts divulgando intimidades de famosos são os mais curtidos e comentados: “Você viu o que a Anitta fez..., que absurdo.” “Você ficou sabendo o que aconteceu com aquele ator famoso? Nem te conto...”
Mas, porque o ser humano gosta tanto de — parafraseando Jesus — reparar o cisco no olho do outro e não ver a trave que está no próprio olho? Quando uma pessoa julga a outra, ela muitas vezes se sente superior, como dizem por aí: “Tem o ego inflado”. Ao comparar a própria vida com a “vida ruim” do mendigo, ela se sente grata e em uma condição superior. Não podemos esquecer também das projeções do nosso lado negativo e cruel em cima dos outros, isso traz alívio interno e é uma forma relativamente aceita socialmente. Toda acusação também nos insere em um grupo, que compartilha da mesma opinião nossa, e isso nos faz sentirmos acolhidos socialmente.
Percebam que motivos não faltam para pressupormos coisas e darmos nossa opinião sobre a vida dos outros. Todavia, talvez se pergunte: como parar de julgar os outros? Os julgamentos tendem a diminuir quando “olhamos para o próprio umbigo”, quando percebemos a “vida desgraçada” que temos e constatamos que não somos a “última bolacha do pacote” e nem essa “Coca-Cola toda”.
Talvez o melhor conselho seja o do grande filósofo Baruch Spinoza: “Fiz um esforço incessante para não ridicularizar, não lamentar, não desprezar as ações humanas, mas para compreendê-las.” Entender que nada é tão simples como parece ser, e que todos têm uma natureza animal e cruel, poderá nos ajudar nesse “incessante esforço” que é nos tornarmos mais empáticos, acolhedores e mais humanos.
“Quem julga as pessoas, não tem tempo para amá-las.” Madre Teresa de Calcutá.
— Alessander Raker Stehling
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