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Foto do escritorAlessander Raker Stehling

O Impacto do Superego nas Suas Decisões: Permita-se Viver Sem Culpa

Em 1982, Lulu Santos lançou uma música icônica chamada “Tempos Modernos”, com um refrão que muitos de nós conhecemos bem:


“Hoje o tempo voa, amor

Escorre pelas mãos

Mesmo sem se sentir

E não há tempo que volte, amor

Vamos viver tudo que há pra viver

Vamos nos permitir.”


O convite à liberdade, à vivência plena, ressoa em nossa mente como um grito de urgência — Vamos nos permitir!. Para muitos, essa ideia parece libertadora. Se permitir pode significar abraçar seus desejos, correr atrás dos sonhos, fazer as pazes com quem você realmente é, sem as amarras das expectativas alheias.


Mas, para outros, isso soa como uma afronta. Para eles, permitir-se é quase um erro, um desvio de rota, um “pecado”. Aquelas vozes internas de censura, tão enraizadas, fazem com que cada passo em direção ao novo seja acompanhado de culpa. Esses são os ecos do Super-eu — aquela instância psíquica rígida, formada por tudo aquilo que a pessoa aprendeu desde a infância, as normas, as proibições, as crenças.


O Super-eu, que tem a função de regular e frear os impulsos, pode ser um aliado em situações onde o autocontrole é essencial. Mas, na psicoterapia, quando a pessoa já ressignificou seus traumas, compreendeu seus incômodos e reconheceu seus desejos, é aí que ele pode se tornar um vilão cruel. Imagine uma pessoa que finalmente começa a vislumbrar a vida que sempre quis — sem os fantasmas do passado. No entanto, justo quando está prestes a dar o primeiro passo rumo à realização de seus desejos, o Super-eu aparece com sua postura de guardião inflexível, dizendo: “Isso é errado. Você não pode. Quem você pensa que é?”



Muitos pacientes, após um longo processo terapêutico, chegam até esse ponto. Eles ressignificam suas dores, entendem que os traumas não precisam mais aprisioná-los. Mas quando se trata de dar o próximo passo — de se permitir viver aquilo que antes era reprimido — o Super-eu surge com toda a sua força. Esse bloqueio interno pode colocar tudo a perder. É como se, depois de caminhar por um deserto árido, sob o sol causticante, a pessoa finalmente encontrasse um oásis — com suas águas frescas e cristalinas, palmeiras ao redor, uma promessa de vida e renovação. A um passo de mergulhar nessas águas, de saciar sua sede e revigorar suas forças, ela parasse, hesitante. Em vez de se permitir a tão desejada paz e refresco, ela vira as costas e retorna ao deserto, convencida de que não merece aquele alívio, de que se entregar ao prazer e à renovação seria errado. É o Super-eu falando — sempre impondo limites onde não deveria.


O papel do psicoterapeuta é estar atento a esse momento crítico. Afinal, é triste — e, de certa forma, trágico — ver alguém que trabalhou tanto para se libertar de seus traumas acabar refém de um juiz interno implacável. O Super-eu, com sua rigidez moral, pode fazer com que os desejos recém-descobertos pareçam errados, pecaminosos ou inviáveis.


Mas, assim como Lulu Santos sugere, o tempo não espera por ninguém. Não há um “amanhã” para viver o que nos é essencial. A pessoa que foi corajosa o bastante para ressignificar seu passado precisa ser igualmente corajosa para desafiar esse Super-eu rígido e se permitir viver. Porque, no final das contas — o que é viver se não nos permitimos ser quem somos?


O Super-eu, quando excessivamente inflexível, precisa ser desafiado. E talvez o primeiro passo seja justamente o de olhar para ele, reconhecer sua presença e perguntar: “De quem é essa voz que me impede de ser feliz? É realmente minha, ou é uma herança daquilo que esperavam de mim?”


Vamos viver tudo o que há para viver — porque o tempo não volta, e quem mais perde com isso somos nós mesmos.


— Alessander Raker Stehling

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“O comportamento do Super-eu deve ser levado em consideração, [...] em todas as formas de doença psíquica.” - Frases Freud

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