Acabei de chegar do velório da mãe do Paulo, a dona Antônia. Ao chegar no velório o vi cabisbaixo, logo o abracei, com lágrimas nos olhos, e disse: "Paulo, meus pêsames, sinto muito por sua perda." Ele me disse comovido: "Obrigado, meu amigo, eu queria muito ter salvo ela do Covid, talvez se eu não tivesse deixado ela ir trabalhar ela não teria falecido, poxa, se eu tivesse feito diferente, creio que ela estaria viva. Eu fui um burro."
Eu o acolhi na sua dor, mas fiquei pensando no que ele disse. Não é incomum nos encontrarmos nesse estado de angústia e autorrecriminação diante de uma tragédia. A tendência de buscar culpados, incluindo a nós mesmos, é uma reação humana natural em face do sofrimento. No entanto, é nesses momentos que a sabedoria de Epicteto ecoa poderosamente: "Não deseje que as coisas aconteçam como você quer, mas aceite-as como são, e sua vida terá paz."
Aceitar a realidade como ela é pode parecer uma tarefa árdua, especialmente quando essa realidade inclui eventos dolorosos e injustos. No entanto, é precisamente essa aceitação que nos liberta do ciclo de sofrimento que surge da resistência à realidade.
Ao considerarmos a filosofia de Epicteto, somos convidados a abandonar a ilusão de controle sobre os eventos externos e a nos concentrar no único aspecto que realmente podemos controlar: nossa resposta a esses eventos. Isso não significa resignação passiva ou indiferença, mas sim uma mudança fundamental em nossa perspectiva.
Voltando ao exemplo de Paulo e sua perda, é compreensível que ele se pergunte se poderia ter feito algo diferente para evitar a morte de sua mãe. No entanto, a verdade é que as coisas não podem ser simplificadas assim, Dona Antônia precisava trabalhar, não sabia que ia adoecer, tinha seus próprios desejos, etc. Aceitar essa realidade não implica negar a dor ou o luto, mas sim reconhecer que reviver os “e se...” e os “talvez...” não leva a lugar algum.
Aceitar a vida como ela é também significa reconhecer a impermanência e a impotência diante de inúmeras forças da natureza. A morte, as tragédias, as perdas — todas essas coisas são partes intrínsecas da experiência humana. Ao invés de resistir a elas, podemos aprender a abraçar sua presença inevitável e encontrar significado mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras.
Eu realmente sinto muito pelo meu amigo, entretanto penso que: quando abandonamos nossas expectativas e abraçamos a realidade em sua totalidade, encontramos a serenidade que tanto buscamos. Afinal, como diz o livro de Eclesiastes 9:12: “Além do mais, ninguém sabe quando chegará a sua hora.”
— Alessander Raker Stehling
☑ Aprenda Psicanálise de forma Simples e Fácil. Clique no link e conheça o nosso curso ➜ https://www.psicanalisefacil.com.br/curso-psicanalise-facil
Comments