A jornada da terapia psicanalítica é uma estrada complexa, pavimentada com obstáculos e desafios. Entre esses desafios, um termo se destaca: resistência. Se você já teve contato com um psicólogo, psicanalista ou psicoterapeuta, é provável que tenha ouvido expressões como “você está sendo resistente” ou “precisamos derrubar essas resistências”. Vamos explorar o conceito de resistência sob a lente da psicanálise, compreendendo seu significado e impacto no processo terapêutico.
🔒 A Natureza da Resistência na Psicanálise
Elisabeth Roudinesco, em seu “Dicionário de Psicanálise”, define resistência como “o conjunto das reações de um analisando cujas manifestações, no contexto do tratamento, criam obstáculos ao desenrolar da análise.” Simplificando, quando alguém em terapia começa a exibir comportamentos ou atitudes que interferem no processo, isso é considerado resistência. Essencialmente, é como se a pessoa construísse barreiras que dificultassem a compreensão e a mudança de seus padrões comportamentais.
🔒 As Raízes da Resistência na Visão de Freud
A introdução do termo resistência está intrinsecamente ligada ao pioneiro da psicanálise, Sigmund Freud. Ele começou a empregar esse termo quando se deparou com as primeiras dificuldades durante suas práticas de hipnose e sugestão. No entanto, o método psicanalítico não erradicou as resistências, mas forneceu meios para interpretá-las e, consequentemente, superá-las.
Segundo Freud, em sua obra “Interpretação dos Sonhos”, qualquer fator que perturbe a continuidade do processo terapêutico é uma forma de resistência. Ele ressaltou que não basta apenas comunicar ao paciente o significado de seus sintomas para que o recalque seja dissolvido. É necessário interpretar e trabalhar as resistências apresentadas pelo paciente.
🔒 Diferentes Facetas da Resistência na Psicanálise
No contexto da segunda tópica freudiana (o modelo estrutural da mente), Freud identificou cinco formas principais de resistência, distribuídas entre diferentes partes da psique:
🔒 Resistências Ligadas ao Eu (Ego):
— O recalque em si.
Ex.: Um paciente em terapia que evita discutir ou expressar qualquer lembrança de sua infância, especialmente eventos que poderiam ser emocionalmente desconfortáveis. Essa resistência se manifesta como uma relutância em reviver memórias dolorosas.
— A resistência da transferência: parte da transferência deve ser considerada uma forma de resistência, já que substitui a verbalização da recordação pela repetição comportamental.
Ex.: Durante as sessões, um paciente começa a tratar o terapeuta agressivamente, da mesma maneira que tratava o próprio pai no passado. Isso dificulta a construção de uma relação terapêutica genuína, pois o paciente está projetando sentimentos não resolvidos em relação ao pai no terapeuta.
— O ganho secundário da doença: baseado na integração do sintoma ao ego.
Ex.: Uma pessoa com vitimização crônica encontra conforto nas atenções recebidas de amigos e familiares. Essa atenção serve como um ganho secundário impedindo a sua mudança.
🔒 Resistência Ligada ao Id (Isso):
Esta forma de resistência conduz à compulsão à repetição. Pode ser superada quando o sujeito integra uma interpretação (elaboração).
Ex.: Um paciente que sofreu abuso na infância encontra-se constantemente envolvido em relacionamentos abusivos ou situações semelhantes, repetindo padrões de sofrimento.
🔒 Resistência Ligada ao Superego:
— Expressa-se através de sentimentos de culpa inconscientes e necessidade de punição.
Ex.: Uma pessoa que passou por um divórcio ou término pode achar difícil aceitar que merece ser feliz após o encerramento do relacionamento. Ela pode se sabotar por sentir que mereça sofrer, talvez até afastando potenciais pretendentes interessantes.
Além dessas categorias, os mecanismos de defesa do ego (racionalização, projeção, deslocamento, negação, etc.), também podem ser considerados formas de resistência ao desdobramento da terapia.
🔒 O Desafio da Cura e a Resistência
No cerne de todas essas formas de resistência está um medo subjacente: o medo da cura. A resistência muitas vezes faz com que o indivíduo se apegue a suas aflições e lute contra sua própria recuperação. A transformação e a mudança podem ser vistas como ameaças para a própria identidade e segurança do eu. Afinal, o nosso cérebro, a nossa psique em geral, busca aquilo que nos é familiar.
Toda profunda mudança estrutural da personalidade é desafiante, e isso me lembra uma frase do mestre Aristóteles, que uso para finalizar esse artigo: “A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.”
— Alessander Raker Stehling
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