Fim de semana estava conversando com uma amiga que tem um comportamento interessante. Ela sempre trai ou abandona os homens com quem está se envolvendo. Quando a questionei sobre o porquê disso, ela me disse que não confia nos homens, que todos são traidores e que, por isso, ela os trai ou abandona. Fiquei curioso e investiguei mais a fundo a questão.
Essa amiga, quando criança, foi abandonada pelo pai e, posteriormente, pela mãe, sendo criada pelos avós. Percebi da boca dela o ódio que ela nutre pelo pai e creio que esse trauma do pai tenha distorcido sua visão de todos os homens, algo bem comum.
Ela desenvolveu uma espécie de paranoia relacional, onde a figura masculina se tornou um símbolo de traição e abandono. Esse trauma infantil gerou uma crença infundada e exagerada de que todos os homens, inevitavelmente, irão traí-la e abandoná-la, exatamente como seu pai fez. Assim, para se proteger dessa dor antecipada, ela adota um comportamento paradoxal: trair ou abandonar os parceiros antes que eles tenham a chance de fazê-lo com ela.
Esse comportamento é um mecanismo de evitação, uma forma de lidar com o medo e a desconfiança profunda que se enraizou em sua psique. Ao trair ou abandonar, ela mantém a ilusão de controle sobre a situação, evitando reviver o sentimento de impotência e vulnerabilidade que experimentou na infância.
No entanto, essa estratégia de defesa acaba se tornando um ciclo vicioso. Sua crença distorcida leva a ações que confirmam e perpetuam essa crença. Quando ela trai ou abandona, não dá a oportunidade para que a relação se desenvolva de maneira saudável e, assim, a sua percepção de que “todos os homens são traidores” continua inalterada. Esse é um exemplo claro do que Freud apontava quando dizia que corrigimos traços inaceitáveis do mundo de acordo com nosso desejo e inscrevemos esse delírio na realidade.
A paranoia relacional de minha amiga é, na verdade, uma projeção do seu trauma infantil, um mecanismo de defesa que tenta evitar a dor do abandono, mas que, ironicamente, a leva a vivenciar repetidamente situações de separação e traição. Este comportamento não é raro; muitos de nós, influenciados por experiências negativas na infância, desenvolvemos crenças e comportamentos que, embora pretendam nos proteger, acabam por perpetuar nossos medos e sofrimentos.
A história de minha amiga ilustra como nossas experiências passadas podem moldar profundamente nossas percepções e ações futuras, criando padrões de comportamento que podem ser difíceis de romper. Entender a origem desses padrões é o primeiro passo para transformá-los, buscando novas formas de relacionamento baseadas na confiança e no respeito mútuo, ao invés de na desconfiança e na autoproteção exagerada.
— Alessander Raker Stehling
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