“Talvez eu não tenha vivido como deveria.” Esta é a frase mais profunda e marcante de Ivan Ilitch, o personagem inesquecível de Leon Tolstói, que ao perceber que sua vida estava chegando ao fim, faz essa pergunta acima, que ressoa na alma de qualquer um. Ivan tinha a vida que a maioria de nós gostaria de ter: uma carreira bem-sucedida como juiz, uma casa confortável, uma esposa, filhos e respeito social. Mas quando a doença avançou, forçando-o a confrontar sua própria finitude, aquela “vida perfeita” revelou-se vazia de verdade e significado.
Tentando lutar contra o sofrimento que o corroía dia após dia, Ivan se lançou em uma crise existencial. Ele questionou sua dor, a injustiça de seu estado, o sentido do que sempre acreditou ser uma vida digna e bem-sucedida. A dor física se mesclava com uma dor profunda e silenciosa — a dor de quem, ao final de tudo, percebe que talvez tenha trilhado o caminho errado. Ele se perguntava se merecia tanto sofrimento, pois, afinal, sempre “fizera tudo como é preciso”. Seguiu o que lhe ensinaram: trabalhou, constituiu família, teve filhos, obedeceu às normas e se adequou ao que a sociedade esperava de um homem decente.
E foi apenas nos últimos momentos, quando o corpo não suportava mais a vida, que ele percebeu: seguiu a vida com olhos fechados, numa ilusão de felicidade e propósito. As noites que passou sem sono, refletindo sobre seu sofrimento, revelaram verdades amargas. A carreira respeitável, os status sociais, os elogios e as aparências eram adornos frágeis, disfarces para esconder a falta de uma vida autêntica e vivida com o coração. Ele percebeu, tarde demais, que nunca se perguntara o que realmente o fazia sentir-se vivo.
Ivan Ilitch morria, e morria sem saber o que significava viver. Ele olhava para trás e via o que restava de uma vida que nunca foi verdadeiramente sua. Não eram as dores físicas que o rasgavam por dentro, mas o remorso esmagador de que poderia ter sido mais, vivido mais, se tivesse ousado escutar o que sua alma, talvez, um dia tentara lhe dizer.
Agora eu lhe pergunto: Se você partisse hoje, poderia dizer que realmente viveu?
— Alessander Raker Stehling
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