Quem nasceu na década de 90 certamente sente uma saudade danada. Lembro com carinho do pequeno apartamento onde cresci. Os vizinhos batiam à porta com um prato de bolo ou apenas para perguntar como estávamos. Era algo simples, mas que aquecia o coração. Aquela troca, aquela atenção, nos fazia sentir parte de algo maior.
E você? Consegue lembrar desses momentos? Talvez fosse o cheirinho dos biscoitos da avó, as brincadeiras com os amigos na rua ou a sensação de segurança ao saber que sempre haveria alguém por perto.
Hoje, as coisas mudaram — e muito. Quando morei sozinho pela primeira vez, passei três anos sem sequer saber o nome dos meus vizinhos. Eles também não sabiam o meu. Imagino que, se eu morresse, só notariam pelo cheiro. Esse isolamento vai muito além das paredes de um prédio: ele é uma marca do nosso tempo.
Vivemos uma era em que a solitude tem sido exaltada quase como um ideal de vida. Estar sozinho pode ser essencial para o autoconhecimento, a introspecção e até mesmo para recarregar as energias. Mas há uma linha tênue entre solitude e isolamento. E, muitas vezes, a escolha pela solitude absoluta não vem da liberdade, mas do medo — medo de se abrir, de se conectar, de se permitir ser vulnerável novamente.
Veja bem, mesmo quem mora sozinho geralmente busca algum tipo de companhia, seja na presença de um gato, cachorro ou até mesmo através das redes sociais. Essas conexões, por mais sutis que pareçam, provam que a total solidão é incompatível com nossa natureza humana.
Desde o nascimento até o último suspiro, somos seres sociais. Chegamos ao mundo rodeados de pessoas — pais, médicos, familiares. Partimos dele da mesma forma, cercados por aqueles que nos amam ou cuidam de nós. A ideia de que podemos viver completamente sozinhos é uma ilusão — exceto se a pessoa virar um eremita e for morar totalmente isolada da sociedade, o que é raríssimo. E, mesmo assim, duvido muito que não acabasse de papo com algum passarinho ou árvore.
O isolamento, quando prolongado, não só nos afasta dos outros, mas também de nós mesmos. Perdemos a chance de crescer através do olhar, da experiência e do amor do outro. Esquecemos que a solidariedade e a interdependência são o que sustentam a humanidade. Precisamos uns dos outros — não por fraqueza, mas porque é assim que fomos feitos. É no contato, nas trocas, nas relações que encontramos sentido e construímos a nossa história.
Portanto, que a solitude seja um espaço de refúgio e crescimento, mas jamais um muro que nos separa do resto do mundo. Porque, no fundo, é no encontro com o outro que nos descobrimos inteiros. É no olhar que nos acolhe, no abraço que nos conforta, na palavra que nos resgata que encontramos a essência do que significa ser humano.
A vida, com todas as suas dores e incertezas, é menos pesada quando compartilhada. Precisamos lembrar que, quando nos conectamos, criamos algo maior do que nós mesmos — um legado de amor, solidariedade e humanidade.
E no final, não importa quantas vezes a solidão nos tenha visitado: somos sempre parte de algo maior. Porque, como disse John Donne: “Nenhum homem é uma ilha, completo em si mesmo; cada ser humano é um pedaço do continente, uma parte de um todo.”
— Alessander Raker Stehling
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