Ramon, um arqueólogo apaixonado pelas civilizações antigas e pela história humana, estava em um dia comum de escavação, sem fazer ideia da grandiosa descoberta que faria a seguir. Escavando um pouco mais fundo, ele, de queixo caído, percebeu que havia encontrado um objeto de grande valor, um vaso de ouro magnífico, adornado com inscrições em egípcio antigo que, na hora, ele não soube ler. A curiosidade, característica intrínseca a um explorador de seu calibre, o levou a abrir a tampa do vaso. Uma fumaça misteriosa preencheu a cova e, magicamente, um gênio apareceu diante dele. Este não era azul como o do filme Aladdin, mas tinha uma longa barba branca e um ar de sabedoria atemporal.
“Tu tens direito a um pedido”, disse o gênio com uma voz poderosa como um trovão.
“Mas não eram três?”, Ramon, franzindo a testa, questionou.
“Estás assistindo muitos filmes da Disney, meu caro. Tens apenas um”, respondeu o gênio, com um sorriso sarcástico.
Ramon sorriu de volta e começou a ponderar sobre seu desejo. Ele pensou em pedir a imortalidade, riquezas, poderes inimagináveis. Mas algo mais profundo lhe ocorreu: a ideia de libertar a humanidade do controle opressivo das instituições que regulam e restringem a vida humana. Ele estava cansado da exploração e do controle que as autoridades exerciam sobre suas descobertas arqueológicas e, em um impulso altruísta, decidiu pedir algo que pudesse beneficiar todos.
“Eu quero que todas as instituições que regulam e controlam a vida humana desapareçam”, pediu Ramon.
O gênio, com um olhar penetrante, respondeu: “Quando acordares, terás o teu desejo atendido.”
Na manhã seguinte, Ramon acordou em um mundo que não reconhecia. As instituições que uma vez regulavam a vida cotidiana haviam sumido. Não havia mais governos, religiões, escolas, corporações ou qualquer forma de autoridade central. A liberdade completa, pela qual ele ansiava, agora era realidade.
Inicialmente, a sensação era de euforia. As pessoas podiam fazer o que desejavam, sem medo de represálias ou de restrições impostas por um sistema. Mas, rapidamente, a utopia começou a desmoronar. Sem leis, regras ou guias, a sociedade mergulhou no caos. A ordem foi substituída pela anarquia, e o que parecia ser liberdade revelou-se um fardo insuportável para muitos.
Ramon observou com espanto e desespero a deterioração ao seu redor. As pessoas, sem saberem como lidar com tamanha liberdade, começaram a buscar desesperadamente novos líderes, novos guias, novos tutores. Antigos líderes informais, que surgiram do caos, começaram a impor suas próprias regras, muitas vezes de maneira ainda mais opressiva do que as instituições anteriores. A liberdade sem responsabilidade havia se tornado um pesadelo.
A reflexão de Ramon tornou-se inevitável: a maioria das pessoas tem medo da verdadeira liberdade. Sem estrutura, sem orientação, a liberdade pode se transformar em uma carga insuportável.
Ramon compreendeu que a busca por tutores, coaches, mestres, políticos e gurus não era simplesmente uma falha humana, mas uma necessidade profundamente enraizada na natureza da maioria. A verdadeira liberdade exige não apenas o rompimento das correntes externas, mas a conquista de um autodomínio e uma responsabilidade interna que poucos estão dispostos ou preparados para assumir.
Enquanto a sociedade continuava a afundar no caos, Ramon sentiu o peso de sua decisão. Ele tentou desesperadamente trazer alguma ordem, tentando liderar e organizar as pessoas ao seu redor, mas foi em vão. O caos era implacável e a violência, desenfreada.
Um dia, ao caminhar pelas ruínas de uma cidade que antes era próspera, Ramon foi confrontado por um grupo de pessoas desesperadas e famintas. Eles o culparam pelo colapso, pela dor e sofrimento que estavam experimentando. Em um acesso de fúria e desespero, o grupo atacou Ramon, acreditando que eliminá-lo poderia de alguma forma reverter o desastre que o pedido dele causou.
Ramon caiu, ferido mortalmente, enquanto refletia sobre as ironias cruéis de seu desejo. Sua visão escureceu enquanto ele murmurava suas últimas palavras: “A liberdade… não foi o que eu imaginei.”
E assim, Ramon, que buscou libertar a humanidade, encontrou seu fim tragicamente, vítima do caos que seu desejo semeou. No final, a humanidade mostrou que prefere o jugo pesado e castrador de seus pares à liberdade de poder ser e escolher o que quiser. A verdadeira liberdade, com todo o peso do autodomínio e responsabilidade ligados a ela, é um fardo que poucos conseguem suportar, evidenciando uma triste realidade: A maioria preferirá a familiar e limitada vida em uma gaiola, do que a liberdade de experimentar as possibilidades infinitas em um voo livre.
— Alessander Raker Stehling
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