Você conhece casais que, apesar de estarem claramente infelizes, preferem ficar juntos do que arriscar algo melhor individualmente?
Freud teorizou sobre dois princípios, modos de funcionamento psíquico: o “princípio do prazer” e o “princípio da realidade”. O princípio do prazer consiste na busca de satisfação imediata das necessidades e desejos, evitando o desprazer e a dor. Por exemplo, um casal que continua namorando mesmo que não tenha mais amor ou atração um pelo outro, porque é mais cômodo assim do que terminar.
Já o princípio da realidade consiste na adaptação do indivíduo ao mundo exterior, levando em consideração as leis da realidade e as consequências de suas ações. Por exemplo, um casal que busca conhecer e agradar um ao outro. Ambos entendem que é necessário esforço conjunto para se construir uma relação satisfatória.
No caso dos casais infelizes mencionados no post, é possível que ambos tenham dificuldades em suportar a realidade e o desprazer, vivendo assim mais no princípio do prazer do que no da realidade.
Ao se acostumarem com o sofrimento, alguns casais talvez pensem: “as relações estão tão difíceis, melhor ficar nessa mesmo que já conheço; eu não sinto mais tesão, somos praticamente amigos, mas ao menos a pessoa que está comigo é trabalhadora, gente boa…” Agindo assim, privam-se de uma relação mais profunda e intensa, contentando-se com uma relação meia-boca e monótona. Em suma, não se esforçam para mudar a realidade do relacionamento, apenas suportam um ao outro, mesmo que, no fundo, se sintam infelizes.
Essa acomodação ao sofrimento pode ser um mecanismo de defesa inconsciente, que protege o indivíduo de sentir emoções mais dolorosas, como tristeza, solidão, raiva ou culpa. Pode ser também uma forma de evitar mudanças, que podem ser percebidas como ameaçadoras.
Para superar um relacionamento ruim, é preciso que o indivíduo reconheça que está vivendo uma relação insatisfatória. Após isso, que ele esteja disposto suportar algum nível de desprazer afim de encontrar e mudar o que está atrapalhando a relação e, em último caso, abrir mão do relacionamento caso o parceiro(a) não esteja disposto a se esforçar reciprocamente.
A psicoterapia pode ajudar ambos a encontrarem motivos inconscientes que talvez estejam atrapalhando a relação. Ela pode ajudá-los a compreender as causas do seu sofrimento e descobrir formas de resolvê-los.
Por fim, como disse o grande poeta Carlos Drummond de Andrade: “Amor é privilégio de maduros. (…) Amor começa tarde.” Estejamos conscientes que: só é possível amar verdadeiramente quando estamos dispostos a enfrentar os desafios da vida de forma madura e construir — com dedicação e esforço mútuo — uma relação gostosa, que seja satisfatória para ambos.
— Alessander Raker Stehling
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