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Por que Resistimos à Cura? Uma Análise das Resistências Inconscientes na Terapia

Foto do escritor: Alessander Raker StehlingAlessander Raker Stehling

Ângela entrou no consultório com uma aparência impecável. Vestia um blazer elegante, maquiagem meticulosamente aplicada, postura firme. Quem a visse diria que era uma mulher inabalável. Mas seus olhos denunciavam algo. Algo que ela mesma não queria ver.


— Doutor, eu não entendo… Tenho tudo para ser feliz. Um excelente emprego, sou advogada, independente, bonita, inteligente. Não preciso de homem para nada. Mas… — Ela hesitou.


— Mas… — incentivei.


Ela suspirou e desviou o olhar.


— Meu marido me trata mal. Assim como meus ex. Não é sempre, claro. Às vezes, ele é carinhoso, mas… também pode ser cruel. Quando o conheci, achei que seria diferente. Mas ele começou com palavras duras, depois tapas, depois… — Sua voz tremeu. — Mas eu sou forte, eu sei me defender.


Observei sua resistência em silêncio. Ela minimizava a dor, tentando me convencer — ou talvez convencer a si mesma — de que não era vítima.


— E por que você fica? — perguntei, tranquilamente.


Ela riu. Um riso seco, forçado.


— O amor não é simples, doutor. Você, mais do que eu, deveria saber disso. Também acredito que ele possa mudar. Todo mundo tem um lado bom e um lado ruim, não é mesmo?


Ficamos em silêncio por alguns segundos. Então, a questionei:


— Fale-me do seu pai, Ângela.


Seus ombros enrijeceram. Seu olhar, antes confiante, esmoreceu.


— Meu pai? Ele não tem nada a ver com isso. Foi um homem forte, rígido, mas me ensinou muito.


— Ele também batia em você? — perguntei, com cuidado.


Ela franziu as sobrancelhas. Um silêncio desconfortável se instalou.


— Ele… era duro. Mas fez o que achava certo. Eu fui uma criança difícil, ele precisava ser firme. — Percebi que ela justificava bastante em suas respostas. — Se não fosse por ele, eu não seria quem sou hoje. Meu sucesso, minha disciplina, tudo veio disso.


— Mas e a dor, Ângela? — perguntei. — A dor que ele causou?


Ela piscou rápido, desviando o olhar.


— Eu… — Sua respiração ficou mais curta. — Eu nunca parei para pensar nisso.


— E se pensássemos agora? — convidei.


Ela engoliu em seco. Um tremor leve percorreu seus dedos, que apertavam a bolsa no colo. Respirou fundo e soltou um riso nervoso.


— Isso é bobagem. As pessoas superam as coisas. Eu superei. Olhe para mim, doutor. Eu sou forte.



— Sim, você é. Mas, às vezes, a força que construímos é um escudo para esconder as feridas que ainda sangram.


Ela fechou os olhos por um instante e, quando os abriu, estavam marejados.


— Você está insinuando que fico nesses relacionamentos porque… por que acho que mereço?


— Eu não estou insinuando nada. Mas e se fosse verdade? E se, lá, no fundo, uma parte de você acreditasse que o amor deve vir com dor? Que ser maltratada é algo natural?


Ela ficou imóvel. Um silêncio pesado se estendeu entre nós. Então, baixinho, quase inaudível, murmurou:


— Meu pai dizia que me batia porque eu era teimosa. Dizia ser para o meu próprio bem… Que eu precisava aprender.


— E talvez essa criança dentro de você tenha acreditado nisso. Talvez ela ainda esteja tentando agradar um pai que nunca conseguiu amar sem ferir.


Uma lágrima escorreu pelo seu rosto delicado. Ela rapidamente a enxugou, mas não disse nada. Pela primeira vez, Ângela não resistia. Pela primeira vez, uma rachadura surgia em sua fortaleza.


Ela respirou fundo e, num fio de voz, confessou:


— Eu nunca pensei nisso antes… Nunca.


Suas mãos tremiam levemente sobre a bolsa. O silêncio agora não era mais de resistência, mas de algo novo — um medo diferente, talvez de encarar o que sempre evitou.


— Tomar consciência é difícil — disse gentilmente. — Vai doer, e pode parecer que está ficando pior antes de melhorar. Mas, se você persistir, Ângela… vai valer a pena.


Ela abriu a boca para dizer algo, mas hesitou. Os olhos brilharam, a dúvida pairando no ar.


— E se eu não for tão forte quanto pensei?


Falei baixo:


— Então, talvez seja hora de descobrir que você não precisa ser forte o tempo todo.


— Alessander Raker Stehling

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“O paciente que oferece resistência muitas vezes não é cônscio dessa resistência.” Frase Freud
“O paciente que oferece resistência muitas vezes não é cônscio dessa resistência.” Frase Freud

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