Fim de ano chegando, e aí, já decidiu o que vai fazer? Aqui em Minas Gerais, muita gente adora ir para o litoral — especialmente Guarapari, a famosa praia dos mineiros — no Espírito Santo. Eu sou fã de praia e, claro, não posso deixar de mencionar as delícias que só encontramos por lá. Queijo coalho na brasa é uma iguaria, mas, convenhamos, o de Minas ainda é o melhor. Camarão? Ah, os do mar são imbatíveis, fazem qualquer um esquecer os que encontramos por aqui. E, claro, não posso deixar de fora a ostra! Um limãozinho espremido por cima e ela desce que é uma beleza — “trem bão demais da conta”!
Agora, me diga: quem foi o primeiro doido a abrir uma ostra e pensar em espremer limão nela? Se bem que eu adoro! É um bicho esquisito, sem dúvida, sem esqueleto, todo molenga. Ainda assim, não falta quem a devore com prazer. E, apesar de parecer vulnerável, a ostra tem uma função interessante no mar. Ela ajuda a filtrar a água, mantendo o ambiente marinho mais limpo. E, quando algo entra em sua concha, como um grão de areia ou outro intruso, ela não tem como simplesmente se livrar disso. O que faz, então?
Para lidar com o incômodo, a ostra começa a cobrir o intruso com camadas de nácar, uma substância brilhante que protege seu corpo mole e sensível. Camada após camada, ela transforma aquele incômodo em algo maravilhoso — uma pérola. Quando você compra um colar ou um par de brincos de pérolas, está, na verdade, usando o fruto do sofrimento da ostra, sua própria obra de arte.
E assim somos nós, seres humanos. Tal como as ostras, carregamos dentro de nós nossos grãos de areia: traumas, perdas, dores que muitas vezes não podemos simplesmente expulsar. E, como bem disse Rubem Alves: “São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer. Esses são os artistas.”
Beethoven, que nos presenteou com sinfonias magníficas, fez isso enfrentando a escuridão de sua surdez. Van Gogh, com suas cores vibrantes e pinceladas intensas, deixou para trás um legado de beleza — mesmo que, em vida, tenha sido incompreendido, vendendo apenas um quadro em toda a sua carreira. Fernando Pessoa, com seus múltiplos heterônimos, escreveu sobre o abismo da alma humana, transformando sua solidão e melancolia em poesia que ainda hoje toca nossos corações.
Esses artistas, tal como as ostras, pegaram os fragmentos dolorosos da vida, aqueles que machucam e irritam, e os cobriram com camadas de “nácar”. Cada obra de arte, cada poema, cada pintura é como uma pérola: uma resposta ao sofrimento, uma tentativa de cobrir a dor com algo belo. E quem de nós, ao apreciar essas obras, não se sente tocado pela humanidade que elas expressam?
Tal como a ostra, o artista é vulnerável. Ele sente a vida de forma mais intensa, mais profunda, e transforma o que o incomoda em algo que vale a pena ser compartilhado. No fim, assim como uma ostra que, ao abrir-se, revela sua pérola, o artista nos mostra que há beleza no sofrimento — e que, mesmo as experiências mais difíceis, podem dar origem a algo extraordinário.
Então, da próxima vez que você olhar para uma pérola, lembre-se da ostra e do seu sofrimento. E, quando ouvir uma sinfonia, ler um poema ou ver uma pintura que te emociona, pense no que o artista enfrentou para transformar a própria dor em beleza.
Porque, no fundo, todos carregamos nossas dores, e é delas que nasce a nossa pérola única — a nossa obra de arte, pronta para brilhar e tocar o mundo.
— Alessander Raker Stehling
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