“Parabéns”, “por favor”, “obrigado”, “com licença”, “desculpe”, “perdão”, “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” foram palavras que aprendi no prezinho, e agradeço de coração à “Tia Marcia” e à “Tia Ângela” por me ensinarem, de um jeito simples e maternal, o poder da gentileza. Cada vez que um de nós repetia uma dessas palavrinhas mágicas, elas sorriam, como se vissem em nossa atitude um pequeno gesto de humanidade em formação. Além disso, colavam estrelinhas no nosso caderno, escrevendo algumas dessas palavras sobre elas — um incentivo que valorizava cada pequeno gesto. Isso nunca esqueci. E assim, naquela sala de aula colorida, em meio aos nossos brinquedos e desenhos, íamos aprendendo que educação e gentileza são forças invisíveis, mas poderosas.
Curioso é que, ao crescer, vejo muita gente abrir mão dessas palavras, como se tivessem perdido o valor. Em um mundo cada vez mais apressado, muitos deixam o “obrigado” de lado, trocam o “bom dia” por um aceno discreto e sequer pedem desculpas. Esquecem, talvez, que essas palavras são mais do que fórmulas de polidez — são como o óleo que lubrifica a engrenagem, reduzindo o atrito e promovendo uma interação mais suave entre as peças.
Schopenhauer tinha razão ao afirmar que um pouco de cortesia pode derreter a rigidez das pessoas duronas e hostis, assim como o calor derrete a cera. A gentileza tem uma capacidade transformadora que a lógica e a razão pura muitas vezes não conseguem alcançar. Pense naquelas pessoas conhecidas por serem carrancudas, fechadas, secas — aquelas que você acha que jamais serão receptivas. Muitas vezes, tudo o que falta é uma abordagem humana, um gesto de bondade.
Quantas vezes, em meus atendimentos, desarmei a resistência de pacientes fechados apenas ao dizer “com licença” ou “por gentileza”. Alguns chegam tensos, com o corpo rígido e a expressão fechada, como quem construiu muralhas para se proteger. Mas basta uma abordagem gentil, um tom de voz ameno e palavras cuidadosas para que, aos poucos, aquela resistência comece a se derreter, permitindo que o paciente, antes fechado, se abra.
Esses pequenos gestos são quase como um convite para que se sintam seguros, para que deixem as defesas de lado e permitam que o diálogo flua. É incrível como um simples “por favor” ou um “obrigado” podem abrir portas dentro da própria pessoa, como se a gentileza construísse uma ponte, permitindo uma conexão que, de outra forma, seria impossível. Essa é a magia das palavras que aprendemos na infância, que talvez não valorizemos como deveríamos, mas que, por experiência própria, têm o poder de transformar até os adultos mais calejados e endurecidos.
Por outro lado, quando deixamos de usar esses gestos, abrimos espaço para tensões e atritos desnecessários. Um “com licença” pode evitar um empurra-empurra no transporte público; um “obrigado” pode dar o toque final a uma boa conversa; um “perdão” sincero pode evitar que uma mágoa se forme. Parece básico, e talvez seja — mas é isso que sustenta qualquer sociedade.
A gentileza não é apenas uma formalidade; ela é uma forma de respeito ao outro e um lembrete de que não estamos sozinhos no mundo. Quando somos educados, abrimos portas, literalmente e simbolicamente. Não estamos falando de transformar todos em melhores amigos ou em seres sem conflitos, mas de cultivar uma civilidade que torna as interações mais suaves, leves e humanas.
Então, que tal resgatar as palavrinhas mágicas lá da infância e aplicá-las no dia a dia? A prática da gentileza nos torna flexíveis, adaptáveis, dispostos a ouvir e a colaborar. Com essa postura, todos saem ganhando. Afinal, se podemos derreter a frieza do mundo com um pouco de calor humano, por que não fazer isso?
— Alessander Raker Stehling
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