Muitos chegam à terapia esperando que o psicoterapeuta tenha uma espécie de varinha mágica capaz de fazer sumir seus problemas. É comum ouvir: “Estou te pagando para que me diga o que fazer.” Existe uma expectativa de que o terapeuta seja uma figura onisciente, perfeita, dotada de todas as respostas, como se fosse uma estátua dourada de sabedoria. Mas esse pedestal em que nos colocam esconde algo muito mais profundo — algo que, mais cedo ou mais tarde, pode comprometer o processo terapêutico.
Primeiro, essa imagem idealizada se assemelha a um desejo infantil de cuidado. Assim como uma criança que acredita que seus pais sabem tudo e podem resolver qualquer coisa, o paciente busca no terapeuta uma figura de autoridade infalível, que o tire da confusão, como se o alívio estivesse nas mãos de outro, e não nas suas. Esse é um reflexo natural da nossa formação emocional — crescemos acreditando que os outros nos salvarão.
No entanto, aqui surge o segundo obstáculo: essa fantasia impede a verdadeira responsabilização. Quando esperamos que o terapeuta tenha todas as respostas, nos colocamos em uma posição passiva, como espectadores da própria vida. É mais fácil entregar os problemas e esperar por soluções prontas do que assumir o controle, o protagonismo. Essa é uma armadilha da mente que nos tira o poder, alimenta a dependência e perpetua o ciclo de frustração.
Em terceiro lugar, e talvez o mais importante, essa idealização cria uma barreira entre o paciente e o terapeuta, que deixa de ser uma pessoa real para se transformar em um símbolo inatingível. Isso inviabiliza o encontro humano que é essencial na terapia. Se o terapeuta não pode ser humano, com seus limites e vulnerabilidades, como poderá desenvolver uma relação genuína? A cura não vem de fórmulas prontas ou de conselhos mágicos; ela emerge da relação entre duas pessoas reais, que se encontram em um espaço de confiança, troca e crescimento mútuo.
O processo terapêutico é, antes de tudo, um caminho compartilhado. Não há heróis, não há salvadores. Há, sim, duas pessoas dispostas a se encontrarem, a olharem para suas dores, medos e vulnerabilidades — uma delas oferecendo a escuta e a outra, aos poucos, assumindo as rédeas da própria vida.
— Alessander Raker Stehling
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