Sigmund Freud, o pai da psicanálise, escreveu a frase “De que nos vale uma vida longa, se ela for penosa, pobre em alegrias e tão plena de dores que só poderemos saudar a morte como uma redenção?” em um momento de profunda adversidade pessoal e histórica. Em 1938, ele e sua família, após pagamento de fiança, fugiram de Viena para Londres, escapando da perseguição nazista. Além disso, Freud sofria intensamente de câncer na mandíbula, resultado de seu vício em charutos, e passou por mais de 30 cirurgias para remover tumores.
É fácil perceber que este cenário de dor física e emocional, combinado com o trauma da perseguição e exílio, moldou a visão sombria de Freud sobre a vida prolongada sem qualidade. Para ele, a longevidade, quando acompanhada de sofrimento incessante, perdia seu valor, transformando a morte em uma desejada libertação. A frase de Freud também reflete o sentimento de muitos judeus que viveram em um contexto de opressão e violência, onde a dignidade e a alegria da vida estavam gravemente comprometidas.
Entretanto, essa frase de Freud nos leva a uma reflexão mais ampla sobre o papel do bem-estar e da alegria na vida humana. Em nossos tempos, os avanços científicos e médicos têm permitido uma extensão significativa da expectativa de vida. No entanto, a mera longevidade não é suficiente para garantir uma existência plena e satisfatória.
A vida moderna, apesar de mais longa, muitas vezes é marcada por estresse, ansiedade e isolamento, fatores que podem minar a saúde mental e emocional das pessoas. Embora possamos viver mais, a qualidade dessa vida nem sempre é assegurada. Nossos antepassados, que viviam menos de 60 anos, frequentemente experimentavam uma conexão mais íntima com a natureza e com suas comunidades, o que proporcionava uma forma diferente, mas significativa, de bem-estar e alegria.
Os avanços tecnológicos e médicos devem, portanto, ser acompanhados por um foco na promoção da saúde mental, emocional e social. O bem-estar não pode ser medido apenas em termos de ausência de doenças físicas ou mais anos de vida, mas também deve incluir a capacidade de experimentar alegria, propósito e conexão com os outros. A felicidade e o bem-estar são componentes essenciais de uma vida significativa e devem ser priorizados tanto quanto a longevidade.
A frase de Freud nos faz questionar: de que adianta uma vida prolongada, se for repleta de sofrimento e carente de alegria? Tanto em seu contexto histórico quanto em uma perspectiva mais ampla, a reflexão sobre a importância do bem-estar e da alegria nos lembra que a verdadeira medida de uma vida valiosa não está apenas em sua duração, mas na qualidade das experiências e sentimentos que a compõem. Avançar na ciência e na medicina é fundamental, mas devemos igualmente investir na promoção de uma vida rica em significado, satisfação e felicidade. Sem isso, o prolongamento dos nossos dias se torna uma mera extensão do sofrimento, onde a morte surge como a única libertação possível.
— Alessander Raker Stehling
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