Ontem à tarde, o calor estava de rachar, e a casa num silêncio danado. Fui procurar meu pai. Encontrei-o na mesa, concentrado, riscando bilhetes de loteria. Achei graça. “Que isso, pai? Fazendo uma fezinha?” perguntei. Ele riu de canto. “É, meu sonho é ganhar e dar uma vida boa pra você, seu irmão e a família.”
Sorri. “Pai, sei que o senhor sempre se preocupou com a gente, mas o maior presente o senhor já nos deu. Todo o carinho, a atenção, os cuidados… Nenhum dinheiro no mundo compra isso.” Ele sorriu meio sem graça, feliz com minhas palavras, e voltou ao que estava fazendo.
Depois, fiquei pensando nisso. A gente se preocupa tanto em dar coisas materiais para quem amamos — celulares, viagens, roupas, presentes caros. E não estou dizendo que essas coisas não têm valor. Ter conforto e segurança financeira seria maravilhoso, claro. Mas o que realmente deixa marcas na alma não é o que vem da carteira, mas o que vem do coração.
Lembrei da minha mãe, que já se foi, e percebi que o que mais carrego dela não é o que ela me deu, mas o que ela foi. As tardes em que deitava comigo na cama para ler historinhas infantis deixaram em mim uma paixão pela leitura e pela escrita que dura até hoje. Ela não me deu algo físico, deu-me uma parte de si, que levarei até o fim.
Os tempos mudaram, é verdade, e parece que dar algo de si mesmo ficou mais raro. Muitos pais acham mais fácil entregar um celular para os filhos pequenos do que sentar no chão e brincar de super-heróis depois de um dia exaustivo. Fazer um pix para o filho adolescente virou substituto de perguntar como ele está de verdade ou de oferecer um ombro amigo num momento difícil. Comprar um presente caro para a parceira pode parecer suficiente, mas nada substitui uma conversa sincera, em que você a escuta de verdade — com o coração aberto.
Dar de si mesmo parece bobo, mas não é. É isso que realmente fica. O que você lembra mais: o brinquedo que ganhou de aniversário ou a vez que alguém te empurrou no balanço e riu contigo? Você pode até esquecer o modelo do celular que já teve, mas nunca vai esquecer quem segurou a sua mão no pior dia da sua vida.
O que realmente importa não são as coisas que damos ou acumulamos, mas as conexões, os momentos, o afeto. São essas trocas que ficam, nos enriquecem e nos eternizam no coração de quem amamos.
Porque, no final das contas, o maior presente que podemos dar a alguém é o que temos de mais precioso: a nossa própria vida — entregue em momentos, memórias e afetos. E isso, dinheiro nenhum no mundo pode comprar.
— Alessander Raker Stehling
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