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Foto do escritorAlessander Raker Stehling

Entendendo o Narcisismo: O que é e como pode afetar a vida das pessoas?

Atualizado: 25 de ago.

“Olha só aquele cara ali, não consegue tirar os olhos do próprio reflexo.”, disse Júlia à sua amiga Mariana na academia Pura Energia. “É verdade, parece que ele tá apaixonado por si mesmo. Aposto que se pudesse iria querer se comer também.”, comentou Mariana e ambas riram muito após essa fala. “Hahahaha. Isso é narcisismo puro, não é?”, perguntou Júlia. “Com certeza amiga. Esse é tão narcisista que deve se achar a pessoa mais importante dessa academia.”, respondeu Mariana. “Só espero que ele não fique muito tempo nesse espelho. É o melhor da academia. Poxa, eu também quero dar uma olhadinha nas minhas gordurinhas.”, sorrindo, disse Júlia. “Você tá é gostosa amiga. Nem precisa de espelho pra perceber isso não.” falou Mariana em voz alta. “Ai amiga, para! Você sabe que não gosto do meu corpo.” finalizou Júlia, enquanto ambas se preparavam para uma nova série de exercícios.


Popularmente, o termo “Narcisismo” ou “Narcisista” tem uma conotação pejorativa. “Fulano é narcisista” é sempre algo negativo, porém para a psicanálise, narcisismo é algo bem diferente.


Veja o que o próprio Freud disse sobre o Narcisismo, em seu texto “Introdução ao Narcisismo” (1914): “… o narcisismo não seria uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo do instinto de autoconservação, do qual justificadamente atribuímos uma porção a cada ser vivo.” Imagino que essa explicação de Freud também não tenha lhe ajudado muito a entender o Narcisismo, mas vamos explicar isso.



Todo ser vivo busca sobreviver, eles usam suas energias para cumprirem diversos objetivos, a fim de atingirem essa meta. Sendo o principal objetivo manter os genes da própria espécie circulando no universo.


Voltemos para a espécie humana, que é o foco desse ensaio. No ser humano essa pulsão sexual demora a amadurecer, ela existe imaturamente desde o nascimento, porém, se desenvolve por etapas. Para Freud, a pulsão sexual no início da vida se volta para o próprio indivíduo, ajudando-o a se desenvolver, para que, só depois, ela se direcione (parcialmente) para o mundo externo em busca de satisfação (Narcisismo Primário e Secundário).


Tentarei deixar isso mais claro ainda, pois acho que não consegui acima. O narcisismo não é uma patologia em si, mas um estágio normal do desenvolvimento humano. Todo ser humano precisa cuidar de si e dos outros para sobreviver (e ter maiores chances de transmitir seus genes), sendo a fase do narcisismo essencial para o estabelecimento dessas capacidades (amar a si e os outros).


Trazendo esses conceitos para a realidade: se o bebê sentiu-se suficientemente amado pelos pais, terá uma base sólida (psíquica) para a formação de uma boa autoestima e identidade. Esse “ser” possuirá um desenvolvimento mais saudável, tendo maiores chances de sobrevivência e sucesso em todos os aspectos. Esse seria o narcisismo saudável.


Já o bebê que teve pais negligentes, abusadores ou violentos, terá uma base psíquica repleta de “rachaduras” ou faltas. Esse “ser”, na vida adulta, não terá uma autoestima e identidade saudáveis. Questionará se sua vida tem importância, se alguém lhe ama, se não seria melhor ele(a) não ter nascido, se merece ser amado pelo parceiro(a), poderá desejar se matar… Nitidamente, esse indivíduo terá muitas dificuldades de sobrevivência e sucesso na vida. Esse seria o narcisismo patológico, que também poderá ocorrer caso os pais cuidem excessivamente dos filhos, privando-os da própria subjetividade.


No exemplo, do início desse texto, o marombado que fica se admirando por horas no espelho possui o “narcisismo grandioso”, que é quando o sujeito se acha um Deus, isso provavelmente ocorreu porque ele se sentiu “adorado” pelos seus pais na infância. Já a Júlia possui baixa autoestima, ela não se vê como uma mulher bela, por mais que seja. Ela depende muito da opinião externa sobre si, pois não recebeu amor e validação suficientes dos pais na infância. Neste caso, ela possui o que chamamos de “narcisismo vulnerável”. Veja que, tanto o narcisismo grandioso, quanto o narcisismo vulnerável, não são saudáveis, ambos precisarão de terapia, porém, o grandioso terá maiores dificuldades em aceitar que precisa de ajuda, já que ele se acha um Deus e, muito provavelmente não desejará “descer do pedestal”.


Enfim, gostaria de deixar claro através deste texto, que o narcisismo é uma fase comum a todos os seres, não necessariamente sendo algo negativo. O narcisismo existe em todos nós e, só será negativo caso tivermos uma base de amor-próprio e personalidade mal estruturadas. Ter um narcisismo saudável é fundamental para maior qualidade de vida e satisfação geral. Se este não for o seu caso, procure uma psicoterapia, ainda há tempo de refazer suas estruturas e colher muitos bons frutos deste árduo trabalho.


Um forte abraço.


— Alessander Raker Stehling

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“Em todos esses vínculos o  amor-próprio parece guardar relação com o elemento narcísico  da vida amorosa.” - Sigmund Freud
“Em todos esses vínculos o amor-próprio parece guardar relação com o elemento narcísico da vida amorosa.” - Sigmund Freud
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