Estava aqui relembrando a época em que fiz estágio no hospital municipal da minha cidade. Março de 2002, recém-formado em análises clínicas, eu trabalhava no setor de microbiologia, onde preparava um caldo nutritivo que despejava nas placas de Petri. Não sei se você já viu uma, elas lembram duas tampas de vidro, uma maior e outra menor, que se encaixam perfeitamente. Nelas eu fazia as “culturas” de microrganismos, para testes de antibióticos.
Às vezes ocorria uma contaminação cruzada, talvez por descuido meu (deixar a placa aberta, ou não higienizar bem algum utensílio), ou o “caldo nutritivo” colocado na placa não estava adequado. Obviamente isso afetava os microrganismos nela cultivados, quase sempre eles não se desenvolviam adequadamente, ou simplesmente morriam. Lembrei desse meu passado ao responder a uma pergunta essa semana: “o que você acha desse tanto de transtornos mentais que estão aparecendo, são besteiras inventadas né?”
Não, eu não acho que sejam besteiras inventadas. Penso que da mesma forma que, quando eu preparava uma “cultura tóxica” no setor de microbiologia, os microrganismos morriam ou não se desenvolviam, algo similar ocorre conosco, seres humanos. A cultura humana, quando é tóxica — creio que na maioria dos países seja assim — leva seus membros à morte, ao adoecimento ou ao não desenvolvimento. E isso se conecta com a pergunta que me foi feita…
O maior problema é que a sociedade está doente, seja sincero, é fácil notarmos isso, o aumento das doenças mentais não me deixa mentir. Estamos bem adaptados a um estilo de vida que nos adoece. Enquanto as mídias sociais nos inserem num mundo “ideal”, onde a maioria é bem-sucedido(a), rico, feliz, belo, malhado(a), mas a realidade nos prova que com frequência isso é uma mentira, uma palhaçada. Queríamos que fosse assim, mas a realidade é outra, notamos no dia a dia cada vez mais amigos e colegas tomando remédios tarja preta para tentarem sair da cama e encarar um trabalho de merda — que fo&# com a cabeça e saúde. Estamos muitas vezes doando nosso bem mais precioso, nossa saúde, em troca de um pagamento ridículo, que mal dá para sobreviver.
A verdade é que nos enfiaram goela abaixo necessidades artificiais: a necessidade de ter as últimas roupas e acessórios da moda, a necessidade de ter o carro do ano, a necessidade de ter um emprego super “pica” numa empresa super f$#@, a necessidade de ser perfeito, a necessidade de ter que provar aos outros o tempo todo que somos muito bons… são tantas necessidades mequetrefe, que citá-las ocuparia todo esse texto. Tá na cara que isso foge totalmente das necessidades reais que a natureza nos infundiu. Em uma sentença: “O normal é anormal.”
Ok, que se da$# a natureza, vamos viver do nosso jeito fake mesmo. “Poxa, tô sentindo algo diferente, estranho, eu não tinha isso, digo, esse vazio no peito do tamanho do universo, e nem esses surtos de ansiedade que me derrubam na cama por dias. Tá louco meu, não posso sentir isso, dá aqui esse 'sossega leão'…, com três gotas desse Rivotril o sono vem gostoso e me desligo desse tanto de coisa chata.” E assim vamos “vivendo”.
Não dá mais para fingir que tá tudo bem. A conta chegou, e a fatura tá daquele jeito, “descascando”. Você também percebe que estamos desconectados de nossas necessidades reais, vê que a cultura tóxica não nos nutre, pelo contrário, nos mata e adoece, mais e mais a cada dia. Olhe para si e para o lado, é fácil constatar que esta nunca foi a intenção da natureza para nós.
Se você abrir os olhos para a realidade, para os “gritos” que o seu corpo está esgoelando — AAAAAAHHHHHH —, poderá começar o seu processo de cura, de nutrição e reconexão com a sua essência.
Creio que notou que, mais do que nunca, mudanças radicais são necessárias, os sinais externos e internos que a natureza nos emite provam que esse trem está desgovernado e temos de consertá-lo ainda em movimento, não tem como parar e recomeçar a viagem, a mudança é agora, no meio dos trilhos, do caos.
Cada um precisa fazer a sua parte; não tente mudar o outro, esquece, cure a si... sim, eu acredito nisso! A cura está disponível, muitos humanos — que você inclusive admira — já lhe provaram que ela existe e é possível, entretanto a busca por ela não é fácil; onde se encontra? Em algum lugar bem aí, dentro de você, dentro de mim, dentro de cada um de nós.
“Pois cada átomo que há em mim também habita você” — Walt Whitman
— Alessander Raker Stehling
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