top of page

Como Romper um Relacionamento Abusivo e Tóxico: A História Inspiradora de Ângela

Foto do escritor: Alessander Raker StehlingAlessander Raker Stehling

“Ângela, o que aconteceu? Meu Deus! Você está muito machucada.” — falei espantado ao vê-la entrar no consultório. Ela estava com o olho roxo, a boca inchada e hematomas por todo o rosto. Sem conseguir conter o choro, gaguejou: “Fo-foi o Sé-Sérgio... aquele idiota. E-ele me ba-ba-bateu e fugiu.”


Enquanto ela soluçava, pedi que se sentasse. Fui buscar um copo de água com açúcar, tentando ajudá-la a se acalmar. Aquela não era a primeira vez que Ângela chegava ferida, mas nunca antes de forma tão brutal. Naquela sessão, talvez pela fragilidade, ela se abriu de uma maneira que nunca havia feito.


“Eu não quero mais esse traste na minha vida! Ele é um péssimo exemplo para a minha filha, um marido de merda. Vive bêbado, dá trabalho e ainda me bate. Não quero vê-lo nem pintado de ouro!”


Senti firmeza em sua fala. Por um momento, achei que aquele seria o início de sua libertação. Mas, na sessão seguinte, ela não apareceu. Nem na outra. Um mês se passou até que ela me ligou.


“Podemos fazer uma sessão hoje? Eu não estou muito bem.”


Quando Ângela voltou, trouxe consigo a notícia que eu já imaginava: ela havia reatado com Sérgio. Ele prometera mudar — promessas vazias e manipuladoras que, mais uma vez, ela quis acreditar.


Nos anos que se seguiram, trabalhamos profundamente sua história. Ela reconheceu os padrões de apego que a prendiam ao marido, a infância disfuncional com um pai alcoólatra e violento, e a sensação de impotência que sentia desde pequena. Ela sabia tudo isso. Sabia que estava repetindo uma história. Sabia que estava infeliz, ansiosa e, aos poucos, se deixando definhar. Mas não conseguia agir.


“Eu não quero vê-lo nem pintado de ouro!” — era sua frase semanal, repetida quase como um mantra vazio.



Como terapeuta, não cabia a mim dizer o que ela devia fazer. Em vários momentos, segurei o impulso de aconselhá-la diretamente. Ângela precisava chegar à própria conclusão.


Um dia, lembrei-me de uma técnica que um supervisor me ensinou: recrutar o paciente como seu próprio terapeuta. Na sessão seguinte, decidi tentar.


“Ângela, estou com um caso difícil. Talvez você possa me ajudar. É uma paciente morena, alta e que, antigamente, era muito vaidosa. Ela é uma mulher inteligente, bonita, uma mãe dedicada. Tem 45 anos e uma luz incrível, mas vive numa relação tóxica. O marido é abusivo, um bêbado agressivo. Ela já tentou deixá-lo várias vezes, mas sempre acaba voltando. O que você acha que eu deveria dizer para ela?”


Olhei no fundo dos seus olhos e percebi o momento em que a ficha caiu. O silêncio no consultório era profundo e poderoso. Ângela ficou olhando para o chão, enquanto lágrimas escorriam por seu rosto. De repente, começou a chorar como nunca antes.


“Essa mulher… sou eu, não é?”


Eu não respondi. Não precisava. Ela continuou: “Meu Deus, o que estou fazendo comigo? Com a minha filha? Eu sou melhor do que isso.”


A partir desse momento, Ângela mudou. Não foi fácil, nem rápido, mas ela finalmente começou a agir. Semana após semana, reconstruímos sua autoestima e trabalhamos seu medo de enfrentar o mundo sem Sérgio. Em seis meses, ela encontrou coragem para sair de casa com a filha. Buscou um advogado, começou um curso que sempre quis fazer e até voltou a praticar yoga, uma paixão antiga.


Certo dia, ela entrou no consultório sorrindo. Pela primeira vez em anos, a energia dela era outra.


“Doutor, ontem eu me olhei no espelho e pensei: essa mulher merece tudo de bom que o mundo tem a oferecer. E sabe de uma coisa? Eu acredito nisso.”


O grande psicólogo William James tinha razão: a maior descoberta é que o ser humano pode mudar sua vida mudando sua atitude mental. Para Ângela, bastou um pequeno espelho — literal e figurativo — para enxergar o quanto ela valia.


Hoje, ela não fala mais de Sérgio. Fala de viagens, sonhos e, principalmente, de como é bom finalmente se sentir livre.


— Alessander Raker Stehling

☑ Aprenda Psicanálise de forma Simples e Fácil. Clique no link e conheça o nosso curso ➜ https://www.psicanalisefacil.com.br/curso-psicanalise-facil



“A maior descoberta de minha geração é que o ser humano pode alterar a sua vida mudando sua atitude mental.” - Frases William James
“A maior descoberta de minha geração é que o ser humano pode alterar a sua vida mudando sua atitude mental.” - Frases William James

Comments


bottom of page