Meia-noite e meia de uma segunda-feira, e meu celular vibra: “Ei, tá acordado ainda? Tem como trocar o nome da Flávia pelo da Aline no nosso amigo oculto de fim de ano?” Rafael!? A essa hora? Sério? Ele acha que eu vou responder agora? Já tá tarde pra caramba. Peraí… trocar a Flávia pela Aline? Ué, mas a Flávia não era a namorada dele até semana passada? E outra coisa: os nomes já foram sorteados, não tem como trocar. Ele tá achando o quê? Que aqui é a casa da mãe Joana? E essa Aline, quem é? Deve ser a nova “namorada” dele. Os namoros desse cara nunca duram… Ah, vai tomar banho! Eu é que não vou perder meu tempo de sono. Vou é dormir. Boa noite.
Acordei animado, tomei meu café, fui à academia e conversei com o Rafael. E era isso mesmo que eu suspeitava: ele quer trocar o nome da ex-namorada pela atual no nosso amigo oculto de fim de ano. Já falei que não tem jeito, que isso não existe e que, se for para sortear os nomes novamente, ele vai ficar de fora. Não dá pra confiar no Rafael. Cada mês ele tá com uma nova namorada. Há seis meses, quem era mesmo? … Lembrei: era a Roberta. Depois veio a Flávia e agora a Aline. Ah, não. Desse jeito, até o final do ano deve ter outra. Ou outras. Vai saber. Vou é tirar o nome dele da brincadeira.
Tô pensando aqui… Esse negócio do Rafael ficar trocando de namorada praticamente todo mês começou depois do término do casamento dele, há dois anos. Ele sempre foi muito dedicado à família e ao filho. Casado por oito anos, pai presente, fazia questão de mandar flores no aniversário de casamento — o povo até achava brega, mas eu achava massa —, e deixava bilhetinhos pela casa. Todo mundo dizia que ele era o marido perfeito. Eu também achava. E ele foi mesmo. Mas aí veio a bomba: a esposa o traiu.
A casa caiu! Desde então, Rafael mudou. E não foi pouco, não. O cara que antes era sinônimo de estabilidade virou o rei da desconfiança. Depois dessa gaia que ele tomou, nunca mais confiou em mulher nenhuma. Ele sempre diz: “Não confio em mulher mesmo.” Ô loco meu! O cara endoidou… Até entendo, apesar disso ser bem radical.
Não importava o quanto as novas namoradas fossem legais, dedicadas ou pacientes. Bastava qualquer coisa fora do esperado, e Rafael encerrava o relacionamento na hora. Tipo aquela moça… Qual era o nome dela mesmo? Nem lembro. Mas não importa. Ela, coitada, não atendeu o telefone porque estava no hospital com a mãe. E o Rafael? Terminou na hora. Nem quis saber dos detalhes. “Se ela não atendeu, é porque tá garrada com macho!” Isso é o que ele diz, né?
A Flávia, ex-namorada, eu conheci num churrasco na casa dele. Lá estavam os dois apaixonados, e ele dizendo: “Essa é a mulher da minha vida.” Agora já tá pedindo para incluir a Aline no nosso amigo oculto. Olha que viagem...
Peraí, deixa eu ligar pra ele aqui:
— Rafael, tu tá de sacanagem, né? Quer que eu coloque a Aline no nosso amigo oculto pra depois você terminar com ela. E a gente fica como?
— Não, cara. Eu não vou terminar com essa. Ela é a mulher que eu sempre quis, um presente de Deus.
— Presente de Deus? E as outras eram o quê? Pelo que me lembro, a Flávia era a mulher da sua vida. Tu se lembra que disse isso no churrasco?
— É, lembro sim, mas ela vacilou, pisou na bola feio comigo, e tive que terminar. Você sabe, né, cara? Não dá pra confiar em mulher.
— Olha, eu até queria conversar com você sobre essa sua desconfiança com as mulheres… Oi… Rafael? Tá na linha? Maldito, ele desligou!
Aff! Acho que ele tá fugindo de ouvir umas verdades. O problema é que não sei se essa Aline vai durar até o amigo oculto de fim de ano. Uma coisa é certa: enquanto Rafael não perceber que tá paranoico com essa ideia de que toda mulher é pilantra, ele vai continuar pulando de galho em galho e não vai parar com ninguém.
É, por via das dúvidas, é melhor eu tirar o nome dele e nem colocar o da Aline no amigo oculto. Como dizia meu avô: “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.”
— Alessander Raker Stehling
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