Autoconhecimento e Liberdade: A História de uma Mulher que Aprendeu a Dizer NÃO
- Alessander Raker Stehling
- 30 de mar.
- 3 min de leitura
Três da manhã. O quarto estava mergulhado em um silêncio pesado, interrompido apenas pela respiração profunda e regular de Anderson, que dormia ao seu lado. Katlyn se levantou da cama com movimentos cuidadosos, evitando fazer qualquer barulho que pudesse acordá-lo. Caminhou até o banheiro, sentindo o frio do piso de cerâmica sob os pés descalços. Ao acender a luz, olhou para o espelho — e parou.
O rosto refletido não era o dela. Ou, pelo menos, não era o rosto que lembrava de ter. Olhos sem brilho, cercados por olheiras profundas. Sobrancelhas caídas, como se carregassem o peso de anos de silêncio. Boca cerrada, sem um traço de sorriso. Era um rosto sem expressão, sem história, como se a vida tivesse sido sugada dele.
Ela se inclinou para mais perto do espelho, como se procurasse algo que havia perdido há muito tempo.
— Quem é você? — sussurrou para o reflexo.
A pergunta penetrou em sua alma, mas a resposta não veio.
Era o rosto de uma mulher que sempre dizia “sim”. Sim para as exigências do marido, para as críticas da família, para as expectativas da sociedade. Alguém que abriu mão de si para caber no molde que outros criaram e que, aos poucos, havia se tornado invisível — até para si mesma.
Mas, naquele momento, algo dentro dela acendeu. Uma faísca. Um incômodo. Algo que não conseguiria mais ignorar.
Katlyn sempre fora a esposa “perfeita”. Obediente, dedicada, quieta. Seguiu todas as regras que Anderson impôs: o que vestir, com quem conversar, como se comportar. Ele dizia que era para o bem dela, que sabia o que era melhor. E ela acreditou. Por anos, ela acreditou.
Mas, naquela noite, ao olhar para o próprio rosto no espelho, percebeu que estava se perdendo. Cada “sim” era um pedaço de sua identidade que entregava. Cada vez que calava sua voz, um pouco de sua luz se apagava.
O estalo final veio alguns dias depois, em um jantar com amigos. Anderson fez uma piada às suas custas, como sempre fazia. Todos riram, e ela forçou um sorriso, como sempre fazia. Mas, pela primeira vez, sentiu algo diferente: raiva. Uma raiva quente e pulsante, que subiu do estômago até o peito. Sentiu as unhas perfurando as palmas das mãos, mas não soltou o grito que fervia em sua garganta. Não ali, não na frente deles. Mas aquela raiva não desapareceria. Ela sabia que algo havia mudado para sempre.
Naquela noite, de volta para casa, olhou para Anderson e disse as palavras que nunca tivera coragem de dizer:
— CHEGA!
A palavra saiu firme, inquebrantável, como se sempre tivesse estado ali, esperando o momento certo para emergir.
Anderson riu, descrente, e tentou convencê-la de que estava exagerando, que tudo não passava de um mal-entendido. Mas Katlyn não estava mais ouvindo. Pela primeira vez em anos, não precisava de permissão para sentir.
A decisão de deixar o relacionamento não foi fácil. Anderson tentou convencê-la a ficar, dizendo que ela nunca encontraria alguém como ele. Sua família a pressionou, dizendo que o divórcio era um pecado. Mas Katlyn sabia que, se ficasse, estaria traindo a si mesma.
As primeiras noites sozinha foram angustiantes. O silêncio da casa era assustador. Mas, aos poucos, começou a perceber que aquele silêncio era, na verdade, liberdade.
Olhou-se no espelho novamente. E, desta vez, viu algo diferente. Os olhos ainda estavam cansados, mas havia um brilho neles. A boca ainda estava cerrada, mas esboçava um pequeno sorriso de canto, quase imperceptível, como se ela estivesse começando a se reconhecer. O reflexo no espelho ainda não era totalmente familiar, mas, pela primeira vez em muito tempo, ela se viu.
Não tinha ideia do que o futuro reservava, mas sabia que, pela primeira vez, estava vivendo para si mesma. E, naquele momento, isso era mais do que suficiente. O resto? Bem, o resto ela descobriria no seu próprio tempo.
— Alessander Raker Stehling
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