Vivemos numa era em que o valor de uma pessoa está cada vez mais atrelado ao brilho efêmero dos números: quantidade de seguidores, curtidas, visualizações e interações. O marketing repete que “quem não é visto, não é lembrado.” No entanto, ao que parece, a sociedade moderna adotou essa frase como regra de vida. Esse princípio da visibilidade total acaba criando um terreno fértil para o absurdo. A lógica é simples — seja notado a qualquer custo. Para isso, valem dancinhas ridículas, a sexualização ou até se transformar em um personagem de videogame, como se viu nas populares “lives de NPC” — onde cada reação estava literalmente à venda. Tudo para chamar atenção — e, claro, ganhar dinheiro — em troca da idiotização e alienação de si mesmo.
É nesse cenário que a ansiedade e a depressão encontram espaço para se alastrar como uma epidemia. Os dados são categóricos e alarmantes: hoje, o Brasil está entre os países com as maiores taxas de depressão e ansiedade do mundo. Pesquisas recentes indicam que 68% dos brasileiros sentem-se ansiosos — mas poucos procuram ajuda. Não por acaso, o FOMO (Fear of Missing Out), ou medo de estar perdendo algo, está no centro desse quadro. Cada vez que deslizamos a tela e encontramos as vidas “perfeitas” e a felicidade exagerada dos outros, sentimos que talvez estejamos ficando para trás, não nos esforçando o suficiente, invisíveis, irrelevantes. E isso leva muitos a redobrar os esforços para serem vistos e admirados.
E o preço que pagamos é alto. Ao nos moldarmos para sermos aceitos e notados, nos afastamos de nós mesmos. Perdemos a autenticidade, jogamos nossa dignidade pela janela e abrimos mão de nossos valores pessoais em troca de likes e presentes virtuais. Não é apenas o distanciamento dos outros que nos desconecta; é, sobretudo, o afastamento de nós mesmos.
Curiosamente, diante dessa pressão, há uma tendência crescente entre os jovens de se rebelarem contra essa cultura de exposição constante. Alguns optam pelo “feed zero”, um estilo de vida digital minimalista, em que a vida pessoal não é tema de exibição constante. Esse “feed zero” devolve uma parcela importante da liberdade, pois reduz a necessidade de se medir pelo julgamento alheio — embora não resolva totalmente o problema. Longe dos holofotes, é possível ouvir a própria voz, reconhecer-se sem filtros e recuperar uma tranquilidade que só o estilo de vida reservado pode oferecer.
Há uma beleza imensa em viver um pouco mais “escondido”. É como desacelerar e voltar a apreciar a vida e a natureza com todas as suas nuances e cores. Resgatar o direito de ser invisível, de caminhar pelo mundo sem carregar a obrigação de agradar ou de se expor, pode ser uma experiência genuinamente libertadora. Nesse espaço de autenticidade, os medos sobre o que pensam ou esperam de nós se dissipam; ganhamos a rara oportunidade, hoje em dia, de simplesmente ser, sem justificativas ou máscaras.
Quando descobrimos essa paz, percebemos que, para viver bem, não precisamos de aplausos. Ao contrário, quanto mais tranquilos estamos, menos dependemos dos olhares alheios. E nessa paz interior encontramos a verdadeira satisfação — uma felicidade que não pede por validação, pois vem de um lugar profundo e íntimo. Afinal, quem está em paz consigo mesmo não precisa de plateia; basta-lhe o simples prazer de existir, livre das expectativas e do espetáculo.
— Alessander Raker Stehling
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