Quando foi a Oslo na Noruega em 1952 para receber o Prêmio Nobel da Paz, Albert Schweitzer desafiou o mundo “a ousar enfrentar a situação… O homem tornou-se um super-homem… Mas super-homem com poderes sobre-humanos que não atingiu o nível da razão super-humana. Na medida em que aumentam seus poderes, ele se torna um homem cada vez mais pobre… Impõe-se sacudir nossa consciência ao fato de que nos tornamos tanto mais desumanos quanto mais nos convertemos em super-homens.”
Essas palavras acima são de Albert Schweitzer (1875-1965), um grande humanista que foi médico, filósofo e músico, dedicando sua vida a servir os outros. Em 1913, ele fundou o hospital Lambaréné, no Gabão (África). No entanto, o que mais se destacava nesse notável ser humano era sua crença na santidade da vida e na ajuda mútua entre os seres humanos. Em sua “ética de reverência à vida”, Schweitzer defendia que todas as formas de vida mereciam respeito e cuidado, e que os seres humanos deveriam viver de forma a não prejudicar outros seres vivos. Graças a seu amor e respeito pela vida, ele foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 1952.
A preocupação de Albert Schweitzer, como descrita no primeiro parágrafo, é a mesma que muitos filósofos, cientistas e defensores da natureza têm: a humanidade evoluiu enormemente, graças à tecnologia nos tornamos “super-homens”, mas, internamente, no coração do homem, ainda há um ser que só busca o prazer próprio, só pensa em si, é cruel e desumano.
Se analisarmos os avanços humanos, já poderíamos ter acabado com diversos problemas que matam milhões de pessoas todos os anos, porém, neste sentido, pouco fizemos efetivamente.
Por volta de 1760, James Watt (1736-1819) aprimorou a máquina a vapor, permitindo seu uso em larga escala nas indústrias têxteis. Isso reduziu significativamente os custos de produção, ao substituir o trabalho manual por máquinas. Após a era industrial, vivemos a era pós-industrial (1945-1970), que se beneficiou dos avanços na comunicação e produção, muitos dos quais decorrentes da Segunda Guerra Mundial. Esses avanços permitiram aprimorar ainda mais os processos de industrialização, substituindo cada vez mais o trabalho humano pela automação e robótica em escala mundial.
Estamos testemunhando o surgimento de uma nova era impulsionada pela inteligência artificial. Já podemos contar com assistentes virtuais em nossos celulares, robôs que executam diversas tarefas nas indústrias e carros autônomos circulando pelas ruas — embora no Brasil essa tecnologia ainda esteja engatinhando. Além disso, em breve teremos muitos outros avanços graças à inteligência artificial, em áreas como medicina, agricultura, educação e pesquisa científica.
É fato que o mundo tecnológico está evoluindo rapidamente, como bem observou Albert Schweitzer. Entretanto, parece que os seres humanos estão fazendo o oposto em relação às suas capacidades humanas. Tornamo-nos pouco a pouco mais desumanos, involuímos dia a dia.
O abismo entre pobres e ricos continua a aumentar. A fome, que é uma vergonha ainda não termos eliminado, mata cerca de 10 milhões de pessoas todos os anos em todo o mundo. O desemprego só aumenta (e obviamente só aumentará devido à automação) e não são criados programas sociais dignos para amparar os menos favorecidos. Enquanto as massas lutam para sobreviver, uma minoria — políticos, artistas, atletas e grandes empresários — vive em uma realidade paralela, entregando-se irresponsavelmente a todos os prazeres que o dinheiro pode comprar e ignorando os problemas enfrentados pela grande maioria.
Necessitamos de uma mudança humana profunda que não ocorrerá por imposição religiosa, ética ou governamental. O ser humano tem compartilhado por milhares de anos um estilo de vida hedonista e egoísta, baseado no consumo a todo custo, o que se provou doentio, imbecil e destrutivo. Se quisermos sobreviver como espécie, talvez pela primeira vez na história, precisamos dar um passo para trás. Cada um de nós deve repensar a forma como estamos conduzindo nossas vidas, lembrando sempre que, em última análise, estamos todos no mesmo barco e, se ele “tombar”, será o fim para todos nós.
— Alessander Raker Stehling
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