Para grande parte dos pais os filhos são um presente, algo especial e maravilhoso. Muitos nutriram por anos o desejo de terem a própria família, imaginaram o rostinho dos filhos, as brincadeiras que teriam com eles, o jeitinho destes e muitos outros detalhes.
Não podemos negar que todos os pais criam certas expectativas a respeito dos filhos, talvez na conduta que esperam destes, dos traços de personalidade que gostariam de ver neles, ou até profissionais. No entanto, muitos se esquecem de um detalhe importante: todo filho é um ser único.
Todos nascemos com uma predisposição genética, uma inclinação natural para certas coisas, que vamos descobrindo ao longo da vida. Talvez o filho tenha propensão ao esporte, mas o pai deseja que ele seja um engenheiro, ou quem sabe a filha tenha inclinação para a arte e pintura, mas sua mãe gostaria que ela fosse juíza. Não podemos também nos esquecer dos temperamentos humanos (colérico, sanguíneo, melancólico e fleumático); talvez o filho tenha certa inclinação para agitação e rebeldia, mas os seus pais gostariam que ele fosse mais calmo e tranquilo…
Este é um problema antigo; de um lado temos a natureza do filho, e do outro, as expectativas dos pais e da sociedade em torno dele. O que ocorre com muita frequência é a imposição dos desejos externos sobre os da criança.
Muitas vezes a criança se vê forçada a reprimir certas predisposições para agradar os pais e a sociedade, moldando-se totalmente ao que os outros esperam dela. Essa é a raiz dos desenvolvimentos neuróticos, ou seja, o corpo e mente da criança se inclinam para algo, mas ela os força para outra coisa totalmente diferente. Agindo assim ela desenvolve uma falsa identidade, como uma máscara, que coloca ao se apresentar para o mundo.
Ideal seria se a criança pudesse ser mais ela mesma, vivendo mais livremente suas inclinações naturais, no entanto, sabemos que isso não é fácil de se alcançar, pois toda criança quer agradar os pais e teme a rejeição da sociedade. Faz isso por uma questão de proteção e sobrevivência.
Quem — na maior parte do tempo — abre mão dos próprios desejos e vive integralmente essa “falsa identidade” necessita constantemente de aprovação externa. Não é isso que vemos regularmente? Jovens e adultos que fazem tudo por “likes”. Exibem-se vulgarmente ou agem como idiotas, comportando-se de forma totalmente desonesta consigo mesmos. Já quem vive sua identidade genuína não necessita de tal aprovação externa, porque sua conduta está em harmonia com a sua natureza interior. Este, sim, é um modo de vida honesto.
Concluímos assim que o desafio dos pais é reduzir suas expectativas pessoais e sociais em torno dos filhos, permitindo que estes vivam e desenvolvam ao máximo suas próprias potencialidades. Isso evitaria muitos conflitos neuróticos e melhoraria a sociedade como um todo.
— Alessander Raker Stehling
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