“Sinto que não estou conseguindo mais te ajudar, talvez seja melhor você procurar outro terapeuta. Me perdoe por ser tão fraco.” Essas foram as palavras do meu terapeuta, ditas há aproximadamente cinco anos; elas me marcaram profundamente e mudaram nossa relação.
Naquele dia, eu estava super animado, e no fim da sessão, ele disse algumas palavras e encerrou com essa sentença. Fiquei surpreso a princípio, achei que havia algo de errado comigo, confesso, mas fui embora para casa pensando no que ele disse. Lembrei-me de todos os pontos em que ele havia me ajudado e no quanto ele era capaz — realmente, o cara era um ótimo terapeuta. Ele havia me ajudado em pontos profundos ligados à minha falecida mãe e outras questões íntimas. Pensei: “Por que você não conta para ele tudo que ele fez e tenta ajudá-lo a perceber quão capaz e forte é?” E foi isso que fiz.
Tentei agendar uma próxima sessão, mas ele parecia ter desistido — não de mim, mas dele mesmo. Insisti, ele aceitou com muito custo.
Naquela sessão, lembro-me bem, ele estava visivelmente abatido, com olheiras profundas e um olhar cansado. Sentei-me e, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, comecei a falar sobre o quanto ele havia me ajudado. Relembrei cada sessão em que ele havia me guiado por labirintos penosos da minha mente, como havia me ajudado a enfrentar os demônios que surgiram após a morte de minha mãe. Ele me ouviu em silêncio, com os olhos marejados em alguns momentos.
Depois de um longo silêncio, ele falou: “Eu… não sabia que tinha tido um impacto tão grande em sua vida. Estou passando por um momento difícil, e acho que me perdi no meio do caminho.” Naquele momento, algo mudou entre nós. Vi o ser humano vulnerável por trás do terapeuta profissional. Ele me contou que havia procurado um psiquiatra e que tinha sido diagnosticado com princípio de depressão.
Começamos a falar não apenas das minhas dores, mas também das dele. Compartilhamos histórias, medos e esperanças. Ele não era mais apenas meu terapeuta; éramos dois seres humanos, machucados, tentando encontrar um caminho de cura. Ele me contou como meus relatos, minhas superações e até minhas recaídas o faziam refletir sobre sua própria vida, sobre suas próprias dores e conquistas.
Essa troca foi transformadora para ambos. Ele começou a ver a terapia não apenas como um trabalho, mas como uma relação mútua de crescimento e aprendizado. E eu, por minha vez, passei a ver a importância de uma relação genuína, onde ambos podem se influenciar e se modificar.
Diante da experiência que tive, deixo um incentivo a todos os terapeutas: permitam que seus pacientes entrem em suas mentes e corações. Admitam suas próprias vulnerabilidades e mostrem que, apesar de estarem ali para ajudar, também são seres humanos em busca de cura e amor. Essa honestidade pode transformar não só o paciente, mas também você, terapeuta, criando uma relação mais real e profunda.
Concluo essa história real com uma lição que aprendi: a verdadeira terapia é uma via de mão dupla, onde o crescimento, a cura e o amor acontecem de ambos os lados. Aquele momento, há cinco anos, não só ajudou meu terapeuta, mas também solidificou a minha crença na importância de relações humanas genuínas e vulneráveis. Não somos perfeitos ou heróis de ninguém; somos seres humanos, companheiros de jornada, compartilhando e aprendendo, curando e sendo curados.
“O encontro de duas personalidades assemelha-se ao contato de duas substâncias químicas: se alguma reação ocorre, ambos sofrem uma transformação.” Carl G. Jung
— Alessander Raker Stehling
☑ Aprenda Psicanálise de forma Simples e Fácil. Clique no link e conheça o nosso curso ➜ https://www.psicanalisefacil.com.br/curso-psicanalise-facil
Kommentare