“Bebê recém-nascido é encontrado em uma caixa de papelão dentro de uma lixeira”, essa foi a notícia de capa de um famoso jornal aqui da minha cidade. Imaginar essa cena é algo que dói profundamente na alma e pensar no futuro desse bebê é praticamente impossível. Não sabemos como ele lidará com esse abandono logo em seu despertar para o mundo.
Em uma situação normal, logo nos primeiros minutos após o nascimento, é comum que o bebê fique um pouco atordoado e chorando. No entanto, quando ele é colocado em contato com a pele da mãe — o chamado contato pele a pele — tende a se acalmar. Isso ocorre porque o contato físico com a mãe libera hormônios que ajudam a regular a temperatura, a frequência cardíaca e a respiração do bebê. Estabelece-se assim, entre ambos, uma relação dual, chamada “relação mãe-bebê” pelo pediatra e psicanalista D. W. Winnicott.
Porém, essa relação se inicia bem antes do nascimento do bebê. No útero materno o infante consegue reconhecer a voz e estímulos sensoriais/hormonais, provenientes da mãe. Há entre ambos uma comunicação não verbal, que se aprimora com o passar do tempo.
Ao longo dos primeiros dias de vida, o bebê começa a reconhecer cada vez mais a mãe e a se adaptar ao seu ambiente. É esperado que a mãe também se adapte ao bebê; ela faz isso ao conversar com ele, fazer contato visual, pegando-o no colo e mantendo-o em contato com o seu corpo, respondendo aos seus choros e sinais de desconforto. Essa comunicação e interação com a mãe são fundamentais para que o bebê se sinta seguro e confortável em seu ambiente, e para começar a desenvolver sua identidade e confiança no mundo ao seu redor.
É essa comunicação mãe-bebê que importa e algumas falhas nessa interação entre ambos são comuns. O problema ocorre quando se estabelece um padrão de falhas — incomunicabilidade —, nestes casos o bebê não terá suas necessidades supridas, o que poderá levá-lo a problemas em seu desenvolvimento emocional, social e cognitivo.
Dentre essas falhas de comunicação, podemos citar algumas:
Dificuldades na amamentação: Quando a amamentação é difícil, dolorosa ou não ocorre adequadamente, isso pode afetar a comunicação entre mãe e bebê. O bebê pode sentir fome e desconforto, e a mãe pode sentir frustração e ansiedade.
Problemas de saúde: Quando o bebê está doente ou tem alguma enfermidade, isso pode afetar a comunicação com a mãe. O bebê pode estar mais irritado ou ter necessidades específicas que a mãe pode ter dificuldade em identificar e atender.
Falta de tempo: Quando a mãe tem uma rotina agitada e não tem tempo para dedicar ao bebê, isso pode afetar a comunicação. O bebê pode se sentir negligenciado ou não ter as interações sociais e emocionais necessárias para seu desenvolvimento.
Dificuldades emocionais: Quando a mãe está passando por problemas emocionais, como depressão pós-parto, isso pode afetar a comunicação com o bebê. A mãe pode não ter a energia ou a capacidade emocional para se conectar adequadamente com ele.
A presença de um terceiro (o ideal seria o pai) pode melhorar — e muito — a relação mãe-bebê. Pois ao cuidar dos afazeres domésticos e das necessidades da mãe (o que inclui sua segurança, saúde, alimentação e conforto), ela poderá se dedicar integralmente ao bebê, aprofundando sua conexão com ele.
Como notamos e bem constatou Winnicott, o olhar, a voz, o contato corpo a corpo e a amamentação são fundamentais para o amadurecimento e desenvolvimento saudável do bebê. Fico pensando no futuro daquela criança, que foi encontrada na caixa de papelão. Infelizmente ela sofreu uma abrupta ruptura em sua relação com a mãe (que já havia iniciado). As consequências disso na vida adulta são imprevisíveis, porém, pelo que discutimos neste artigo, notamos que o prognóstico, neste caso, não é nada favorável.
Sinto muito por aquele pequeno ser indefeso que foi rejeitado ao nascer, fico triste só de olhar aquela foto estampada no jornal…
— Alessander Raker Stehling
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