Esses dias, estava conversando com Carol e Igor, um casal de amigos que havia voltado de uma viagem pela Europa. “E aí, como foi a viagem, curtiram muito?”, perguntei. “Uai, foi demais! Que riqueza cultural,” respondeu Carol, empolgada. “A gente se encantou com cada detalhe.” “E o que mais gostaram?”, insisti. “Olha, o mais legal foi pegar um trem e cruzar fronteiras — você passa por vários países, e a cada parada é um novo mundo. Línguas, arquitetura, pratos típicos, vestimentas… tudo é tão diferente! Dá uma sensação de descoberta constante.”
É inegável o que Carol e Igor constataram: a diversidade cultural é um dos maiores tesouros que a humanidade tem a oferecer. Ver como criamos tradições, artes e formas de vida tão variadas — mas todas profundamente humanas — é fascinante. Essa diversidade não está apenas lá fora. No Brasil, cruzar de um estado a outro revela novas expressões culturais, sotaques, gastronomias e tradições regionais.
Somos uma espécie que se adapta e se transforma, criando raízes em diferentes lugares. Mas, mesmo na era da globalização, com o conhecimento ao nosso alcance, o que vemos é o aumento da polarização, do preconceito, da xenofobia e da intolerância. Como, num mundo tão diverso e interconectado, retrocedemos ao ponto de nos fecharmos em bolhas e nos orgulharmos de divisões superficiais?
A resposta talvez esteja nos algoritmos, que nos alimentam com o que já gostamos e acreditamos. Ficamos presos no conforto do conhecido, num ciclo que reforça nossas certezas e limita nossa visão. A diversidade — que deveria ser uma bênção — torna-se motivo de desconfiança. E é aí que o orgulho vazio mencionado por Schopenhauer ressurge.
Se antes o problema era o nacionalismo, hoje ele se fragmentou. Agora, as pessoas se orgulham de serem de esquerda ou de direita, de um estado, classe social, cor de pele, cultura ou ideologia. Esse orgulho humano é, no fundo, uma tentativa de se destacar, de pertencer, de encontrar algo que nos faça sentir especiais.
Mas somos todos frágeis — uma mesma espécie, vulnerável aos caprichos da natureza e às incertezas da vida. Quando uma guerra explode na Rússia, um furacão atinge os EUA, um terremoto sacode o Japão, ou a seca afeta o Nordeste brasileiro, o impacto não se limita a uma região. Vivemos num planeta compartilhado, onde as fronteiras são linhas imaginárias. A crise energética na Europa afeta o preço dos alimentos no Brasil; o desmatamento da Amazônia impacta o clima global.
Somos codependentes. Precisamos uns dos outros para sobreviver, prosperar, aprender e evoluir. Nossas conquistas — tecnologia, ciência, artes — são frutos da cooperação humana. Mas, paradoxalmente, quanto mais nos conectamos, mais parece que nos separamos.
Talvez a resposta não esteja em abraçar o que nos separa, mas em reconhecer o que nos une. Quando compreendemos que as diferenças são riqueza e que a cooperação é a chave para a sobrevivência — e para a realização dos nossos sonhos —, o orgulho vazio perde a força. Orgulhemo-nos, sim, da nossa humanidade. Da nossa capacidade de criar, de amar, de compreender e de nos adaptarmos. Orgulhemo-nos de sermos capazes de estender a mão ao outro, de construir pontes ao invés de muros. Como Carol e Igor experimentaram, a beleza está na viagem, na troca, na integração de experiências que nos tornam mais humanos, mais inteiros.
Afinal, no fundo, todos somos apenas seres humanos. E isso, por si só, já é motivo suficiente para se orgulhar.
— Alessander Raker Stehling
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