Vamos voltar no tempo, mas voltar bastante, para a época em que vivíamos dentro da barriga da nossa mãe. Imagine um ambiente perfeito: temperatura ideal, nenhuma fome, nenhuma ameaça, nenhuma preocupação. Um mundo tranquilo e acolhedor, onde tudo chega sem esforço. Não há separação entre “eu” e “mundo”, porque, ali, tudo é uma coisa só. Nosso organismo está simbioticamente fundido com a nossa mãe, nós dois somos um.
Porém, sem explicação alguma, somos expulsos do nosso paraíso. Como inquilinos despejados sem aviso, somos arrancados do nosso lar sem piedade: o ar frio invade nossos pulmões, luzes ofuscantes cegam nossos olhos, barulhos estrondosos substituem o silêncio aconchegante. Nosso corpo se contorce, tentando se adaptar a esse novo ambiente hostil. Estamos sós pela primeira vez.
É essa a primeira grande angústia humana, o primeiro choque existencial: a angústia do nascimento. Freud dizia que esse evento psíquico molda todas as nossas relações posteriores. Sentimos a dor da separação, a perda do conforto absoluto, o desamparo total. E, a partir desse momento, nossa vida se torna uma busca incessante por recriar aquele estado perdido de segurança e proteção — buscamos amor, buscamos conexão, buscamos pertencer.
Aos poucos, percebemos que não somos uma extensão da nossa mãe. Se ela some da vista, o desespero toma conta: “E se ela nunca mais voltar?”. Esse medo primário é o berço da nossa necessidade de aceitação e validação. Crescemos tentando garantir que nunca estaremos sozinhos, que sempre haverá alguém para nos segurar se cairmos. Mas a vida adulta não oferece essa certeza, e a insegurança de ser deixado para trás nos acompanha.
Com o tempo, outra verdade se impõe: não podemos tudo. Queremos exclusividade, queremos ser o centro do universo, mas percebemos que há limites. Há regras, há outras vontades, há forças maiores do que nós. Descobrimos que não podemos simplesmente desejar e ter, e que desafiar certas autoridades pode ter consequências. No fundo, carregamos o receio de perder afeto, de sermos punidos, de não sermos bons o suficiente.
E quando crescemos mais um pouco, algo ainda mais sutil acontece: começamos a nos vigiar por dentro. Já não é preciso que alguém nos diga o que é certo ou errado — nós mesmos aprendemos a nos julgar, a nos punir. Criamos um tribunal interno, onde muitas vezes somos nosso pior carrasco. Culpas se acumulam, vergonhas nos atormentam, e a sensação de nunca ser suficiente se torna um fardo pesado.
Essas angústias iniciadas na infância não desaparecem. Elas nos acompanham por toda a vida, moldando nossos relacionamentos, nossos receios, nossas decisões. O medo do abandono infantil se reflete na dependência emocional. A insegurança diante da autoridade nos impede de nos expressar plenamente. O peso da autocrítica nos mantém aprisionados em cobranças sem fim.
A solução? Amadurecer. Crescer de verdade. Isso não significa apagar o passado, mas olhar para ele com consciência e coragem. Perceber que já não somos mais aquele bebê indefeso, que podemos sobreviver sem garantias absolutas, que a solidão não é morte, que errar não significa ser indigno de amor.
O fortalecimento do Eu é a chave. Quando o Eu se fortalece, a necessidade desesperada por amor dá lugar ao amor-próprio. O medo da rejeição se transforma em autonomia. O peso da culpa se dissolve na autocompreensão. Crescer é perceber que, embora nunca possamos voltar ao útero, podemos construir nosso próprio paraíso dentro de nós mesmos.
— Alessander Raker Stehling
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